sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

cada criança possui um ritmo de aprender novas palavras, de acordo com os seus limites e seu ambiente


Artêmia Pereira da Silva
Nadielly Bento Barbosa de Brito












INTRODUÇÃO


A aquisição da linguagem na criança é um fato que traz consigo muitas questões com respostas relativas e ao mesmo tempo polêmicas. Perguntas do tipo: Onde devemos situar o inicio da linguagem? Quando as crianças dizem as primeiras palavras? É motivo de muitos debates e estudos aprofundados sobre o tema.Cada um possui uma maneira se enxergar as coisas e com certeza todos têm suas respostas para indagações desse tipo, mas é difícil estabelecer regras, pois cada criança segue um determinado ritmo.Não é de se admirar que alguns pais se preocupem quando seus filhos não progridem acompanhando o ritmo de outras crianças, essa preocupação é normal, mas também, os pais ou os adultos que cercam essas crianças devem estar atentos para o fato da individualidade de cada um, assim, o progresso da criança deve ser acompanhado pelos pais os quais devem levar em consideração os limites de cada criança.

PARTE 1

A formação da linguagem na criança é um fato que traz muitos estudos, a maioria do que se descobre é um pouco relativo, pois cada um tem sua resposta e isso se da pelo fato de que quando tratamos de assuntos que envolvem o progresso das crianças, não podemos generalizar já que cada um segue um determinado ritmo que é regido pelos seus limites e acompanhados pelo contexto onde a criança está inserida.O inicio da linguagem não se da somente por formas verbais, isto é, quando a criança consegue emitir enunciados, mas também quando estabelece comunicação utilizando elementos pré- verbais como: olhares, sorrisos, gestos, voz e etc.Essas interações adulto- criança que notamos no exemplo de Dimitre com sua mãe (anexo 1), são interações cujos componentes agem com intuito de aproximação onde “o adulto não tenta ensinar nada à criança; eles são felizes juntos” (AIMARD: 1998,p.56). A partir dessas interações o bebê progride e consegue participar mais ativamente das trocas, o enriquecimento do vocabulário é ampliado, emite sinais de pedido e etc. Assim, nesse contexto a criança vai progredindo e se aproximando em estabelecer comunicação.“... A partir dos primeiros meses e durante seu primeiro ano a criança adquire capacidades interativas e balbucia.” (AIMARD: 1998 p.59).
Juntamente com o que chamamos de pré- linguagem a criança produz gritos, que são levados em conta como um sinal de desconforto ou de chamado, mas quando a criança progride e utiliza sua voz de maneira diferente esses gritos se tornam menos freqüente. Com essa progressão a criança emite pequenas produções vocais que são emitidas por acaso, com o tempo essas produções serão modulados pela imitação e isso pode ser notado quando um bebê de meses nos olha e nós conversamos com ele, o mesmo observa a nossa boca e movimente os lábios com intuito de nos imitar e com esforço produzem os primeiros sons do balbucio que são mais ou menos os mesmos em diferentes línguas.
De inicio as crianças produzem o [a] inaugurando as vogais, que logo são seguidas pelas demais; as consoantes anteriores são iniciadas com [p], [b] e são seguidas pelas nasais [m] e [n]. As formas são imprecisas no começo, mas depois se assemelham aos fonemas da língua.Quando a criança começa a balbuciar ela produz qualquer tipo de som e todos os ruídos possíveis como se fosse um “balbucio selvagem”, mas com o passar do tempo há uma evolução e esse balbucio se adapta aos modelos fonéticos ouvidos, assim ela se limita ao sistema fonético da língua materna, no caso o português.
A criança, a partir dos cinco ou seis meses, gosta de repetir sons e utiliza a auto-imitacão (espécie de esquema memorizado do fonema) ou a heteroimitação, na qual o “bebê ouve constantemente os adultos que conversam ao redor dele, essas produções contem apenas o repertório fonético da língua e assumem o papel de modelo” (AIMARD: 1998 p.60), mas há mais do que isso no balbucio... “... pois o bebê sente prazer em brincar com os sons, com a ajuda da voz. Estes são os primeiros hábitos de jogo, quando o jogo é exercício, quando ele é habilidade também é um jogo alegre. Existe um verdadeiro jubilo no balbucio, quando vemos um bebê dessa idade espernear, agitar braços e pernas. O balbucio adquire uma importância cada vez maior no esboço do diálogo. Pequenas conversas estão presentes em momentos de intimidade.” (AIMARD: 1998 p.61).
Por volta do segundo ano tudo continua progredindo, mas é nesse ano que dois acontecimentos ganham lugar: as primeiras palavras e as “primeiras frases”. Notamos que na maioria das crianças, as primeiras palavras são identificadas como “papai” e “mamãe” e isso se dá pelo fato de o [a] ser uma das primeiras vogais a serem ditas, e o [p] e o [m] ser uma das primeiras consoantes.Segundo Aimard, o bebê às vezes pode chamar o pai de “mamãe” ou o contrário, e assim não sabemos se ele se engana ou se está brincando ou implicando.Embora a maior parte dos bebês emita “papai” e “mamãe” como as primeiras palavras, não podemos prever qual será ela, pois as vezes podemos nos surpreender. É o caso do exemplo citado por Aimard (anexo 2) no qual retrata que a primeira palavra do filho A. Grégori (1947) foi “trem” e Juliette que se referia a “ denominação do cachorro da casa”. Assim, não sabemos qual será a primeira palavra só podemos concluir que ela será simples, concreta e que será do coditiano da criança. A forma dessa palavra é simples e pode ser que os adultos nem as percebam por isso é preciso bastante atenção dos pais quanto à linguagem das crianças.Conforme a criança vai progredindo o seu vocabulário ultrapassa as palavras “papai” e “mamãe”, e por volta do terceiro ano elas já emitem palavras que imitam vozes de animais, onomatopéias, nomes de pessoas, de animais, de roupas, de alimentos, de bebidas, de roupas, palavras da vida social e outras. As primeiras palavras são importantes, pois permite à criança falar de coisas importantes em sua vida e dentro desse contexto o adulto também tem sua tarefa que é em primeiro lugar oferecer modelos para as crianças construírem sua própria linguagem, eles também devem reforçar e tornar precisas as primeiras palavras é o que comumente chamamos de feedback corretivo.Logo após essas pequenas palavras a criança agora se encaminha para as primeiras combinações de palavras, as primeiras “frases”.Ainda no segundo ano de vida a criança produz pequenos enunciados ou amálgamas, nos quais notamos esboços de primeiras frases. Na maioria das vezes esses enunciados são constituídos por uma única palavra, mais querem dizer muito mais. Assim, podemos dizer que a criança adquire pedaços de discurso, por exemplo: não tem mais, o gatinho, está quente, no chão etc. “Essas frases, gramaticalmente reduzidas a algo vago e pouco estruturado, são expressivas e funcionais nas trocas verbais da criança com as pessoas que a rodeiam.” (AIMARD: 1998,p.66). Nesse contexto a criança fala por prazer tomando a iniciativa de comunicação ou para expressar sentimentos. No terceiro ano, nos enunciados que essas crianças emitem ainda faltam muitas palavras e algumas não são apropriadas, mas mesmo assim conseguimos perceber que elas respeitam certa regra. Além dessas características, notamos também a falta de artigos e a ausência de marcas gramaticais para a distinção entre feminino, masculino, plural ou singular.Mesmo com essa “falta” na construção desses enunciados, tudo o que a criança diz é dotado de significado e diz aquilo que a criança quer comunicar, mas essa comunicação só será possível se o que ela disser for recebido por um adulto que a conhece, isto é, por aquele que a acompanha e que é capaz de notar seu desenvolvimento. A aquisição da linguagem, com podemos concluir com o que já foi dito, é adquirida. Mesmo sabendo que as crianças são dotadas de aptidões inatas, elas só conseguem adquirir linguagem graças aos adultos que a rodeiam. Isso se da pelo fato de elas retirarem da linguagem que escutam modelos dos quais constroem sua própria linguagem, sendo os responsáveis por este fato os adultos (pais, mães, familiares), creches e até a televisão, por esse motivo e que devemos nos atentar quanto à linguagem que dirigimos às crianças. Essa linguagem não deve ser igual a que usamos com qualquer pessoa ou situação, ela deve ter por características, enunciados simples, deve relatar algo que esteja ocorrendo no momento, algo concreto e etc. Essa linguagem também não deve ser fixa, pois se assim fosse estaríamos bloqueando o progresso da criança por isso os adultos devem acompanhar o ritmo das crianças. Nessas interações das crianças com os adultos, a criança é capaz de construir sua própria linguagem e, além disso, é capaz de se situar nos hábitos da linguagem onde ela vai aprender a se comunicar. Assim, notamos quão preciosa é a presença dos pais nesse momento, pois os mesmos são responsáveis pela linguagem do bebê juntamente com seu progresso. As crianças não interagem somente com os adultos, mas também com outras crianças onde elas aprendem entre si. Conforme a criança vai se desenvolvendo maturacionalmente mais elas se tornam capazes de adquirir com mais facilidade a língua e para isso acontecer elas se utilizam de estratégias bastante eficientes. A primeira que podemos relatar aqui é a estratégia de escuta onde a criança presta bastante atenção à linguagem que lhe é dirigida ou que ela ouve ao seu redor. Ela observa bastante o que as pessoas falam e o que ela ouve. A segunda estratégia é a de compreensão, no qual a criança utiliza elementos como entonação e termos mais marcados que outros que facilitam a compreensão. A terceira estratégia é a da imitação, onde a criança procura imitar atitudes dos adultos tais como: ações, rituais, diálogo, proibições e outros; e a quarta estratégia é a de produção onde a criança começa a pronunciar palavras e a construir frases e quando sente incorreções, ela se corrige sozinha ou o adulto a auxilia fornecendo a palavra correta depois dela. Assim que a criança vai progredindo sua linguagem a acompanha tornando sua comunicação cada vez mais rica, o que também facilita a interação dessas com os adultos. O desenvolvimento da criança depende também do seu ritmo, dos pais que exercem papel fundamental nesse processo, e do ambiente. Portanto, tudo o que foi dito pode variar de criança para criança.






PARTE II
Observou-se uma criança, chamada Ana Clara (restante dos dados em anexo 3) e foram coletadas algumas informações com a mãe da criança sobre a aquisição da linguagem da mesma.
Segundo a mãe da criança, suas primeiras palavras foram as quais a mesma tem mais contato como, Dedé (Dedé), tau (tchau) e mamã ( mamãe). Podemos observar que há uma presença de palavras que contêm vogais não-arredondadas, que é normal para idade da criança, por ser mais fácil pronunciá-las.
A criança produz frases com no máximo duas palavras: Me dá ( Me dá) e Qué não ( Quero não). Ela produz ainda expressões como, aba que, possui apenas uma palavra, para dizer Quero água, o que é perfeitamente normal para idade da criança ( 16 meses), pois são bastantes funcionais pois, conseguem dizer alguma coisa aos adultos que a rodeia. Ela não consegue formular perguntas com mais de uma palavra. A única expressa interrogativa que a mesma expressa é o termo é?, que ela utiliza para confirmar alguma coisa. Por exemplo, quando é mostrado algum objeto para a criança, ela aponta com o dedo e diz: é? Esse tipo de discurso, onde é empregada somente uma palavra para dizer muito mais, é bastante comum a crianças com essa idade.Observou-se que a criança possui dificuldade para falar a palavra papai. Talvez pelo fato do pai trabalhar longe e ter pouco contato com a criança, já que foi notado que as palavras ditas pela mesma são palavras que ela tem contato diariamente.
A mãe não utiliza nenhuma estratégia para que a criança aprenda novas palavras. Segundo a mesma essa aprendizagem aconteceu e acontece de maneira natural, de acordo com o contato da criança com as palavras referidas. Porém, é importante salientar que, a criança observada nasceu de uma gestação de trigêmeos e, que devido a isso a mãe conta com a ajuda dos vizinhos para cuidar dos mesmos. Foi notado também que há, por parte dos vizinhos, preferências por determinadas crianças. Ou seja, cada criança acaba tendo mais contato com um determinado vizinho do que as outras e, cada vizinho tem um vocabulário diferenciado e uma estratégia de ensinar às crianças, novas palavras. Talvez isso explique porque o desenvolvimento da aquisição da linguagem nas três crianças não segue o mesmo ritmo. Cada uma delas possui um ritmo diferente, no que diz respeito à aprendizagem de novas palavras. A irmã (Ana Vitória) da criança observada, embora diga várias outras palavras, não consegue dizer a palavra mamãe. Já o irmão (Aminadabes) só consegue dizer a palavra papá (papai), sendo o único dos três irmãos a falar a mesma e, produz vocalizações como a e é, sendo essas vocalizações as mais fáceis de serem produzidas por serem vogais não-arredondadas. Foi observado que o menino possui a língua presa, o que talvez explique sua maior dificuldade em produzir palavras.


CONCLUSÃO
A partir do trabalho apresentado, foi concluído que, cada criança possui um ritmo de aprender novas palavras, de acordo com os seus limites e seu ambiente. A criança apresenta uma pré-disposição para produzir palavras que estão inseridas no seu cotidiano, o que explica o fato de que criança observada (Ana Clara) ter um ritmo de aquisição da linguagem diferente de seus irmãos (que têm a mesma idade que ela, pois são trigêmeos) já que, cada um deles tem bastante contato com adultos diferentes.
Observou-se ainda que, as primeiras palavras da criança foram formadas por consoantes mudas e sonoras e, por vogais não-arredondadas. A mesma ainda não consegue formular perguntas com duas palavras ou mais, o que é perfeitamente normal para sua idade.













REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AIMARD, Paule.O Surgimento da Linguagem na Criança. Tradução de Claúdia Schilling.PortoAlegreArtemd,1998.






















ANEXO 1
“A mãe segura Dimitri, de dois meses, na banheira. Olhares intensos, voz risonha da mãe: “Vamos... sim, bebê...querido...vamos.” Grande sorriso de Dimitri, que mexe os lábios, produções de pequenos “eee”ao inspirar e depois sons contínuos. Em um leve movimento de vai- vém, como um balanço, como se estivesse sendo ninado.Alguns dias mais tarde, Dimitri no colo da mãe. Inicio mudo: eles se olham. Um olhar intenso, largo sorriso prolongado, e depois a criança emite um longo “rrr” seguido de “aeee”, modulando a voz. Recomeça e retoma, com uma expressão quase grave, como se estivesse fazendo algo muito importante. A mãe intervém muito pouco, responde “arre”. Um esboço de conversa. Dimitri com quatro meses, comendo com uma colherinha, com a ajuda da mãe. Olhos nos olhos, clima risonho. Com a colher na boca, o lábio inferior movimenta- se ritmicamente como quando dizemos “bababa”, mas percebemos apenas o barulhinho do lábio contra a colher. Na colherada seguinte, a energia duplica, Dimitri força a voz, pronuncia sons situados entre “bbbb” e “mmmm”, seguidos de uma boa risada. A voz da mãe aprova: “oh simmmmm...” e Dimitri, depois de engolir, ecoa a imitação dessa entonação.” (AIMARD: 1998,p.55)

Considerações e perspectivas para o Desenvolvimento do discurso Narrativos das Crianças





[*]Nayara Martins LealNelidiana Pinto Araújo




Resumo

Os estudos sobre a influência dos fatores sociais na aquisição da linguagem tiveram grande impulso com as críticas às considerações de Chomsky de que havia uma "pobreza dos estímulos" e, portanto, a criança não poderia adquirir a linguagem a partir do meio social. Autores da perspectiva da Interação Social no estudo da linguagem desafiam a posição chomskiana, e evidenciam a importância da interação social para a aquisição da linguagem, especialmente as relações da criança com a mãe. Essas relações representam um sistema dinâmico, segundo o qual ambos contribuem com suas experiências e conhecimentos para o curso da interação. A linguagem é entendida, nesta perspectiva, enquanto comunicação, e portanto é anterior ao surgimento das palavras. Neste trabalho, pretende-se apresentar as explicações desta perspectiva teórica sobre o processo de aquisição da linguagem infantil. Serão discutidos os efeitos da fala materna e sua influência na aquisição da linguagem por parte da criança.


Introdução:

A linguagem é o meio de adequação do individuo a sociedade. Como meio tradicional de comunicação, ela é o instrumento de transmissão de idéias, bem como a ocultação dessas, da alienação e da segregação.
A aquisição da linguagem é o processo pela qual a criança aprende a sua língua materna. A respeito desse processo, há boas razões para se afirmar que a aquisição da primeira língua é a maior façanha que podemos realizar durante toda a vida.

I Parte

Psicolingüística

Caracteriza-se por estudar as conexões entre a linguagem e a mente. Começou a se destacar como uma disciplina autônoma nos anos de 1950. de alguma forma seu aparecimento foi promovido com o lingüista Noam Chomsky.
A psicolingüística analisa qualquer processo que diz respeito a comunicação humana, mediante o uso da linguagem, seja ela de forma oral, ou escrita, gestual, etc. Ela estuda também os fatores que afetam a decodificação, ou seja, as estruturas psicológicas que nos capacitam a aprender expressões, palavras, orações e textos.
Outras áreas da psicolingüística são centradas em temas como a origem da linguagem no ser humano. Algumas analisam o processo de aquisição da língua materna e também a aquisição da língua estrangeira.


Noam Chomsky

Chomsky defendia que a lingüística precisava ser encarada como parte da psicologia cognitiva. Segundo ele os humanos têm uma gramática universal inata, em que a linguagem está veiculada a mecanismos inatos e também comuns a todos eles. Porém, o conhecimento da língua é bem maior que a sua manifestação.
Essa gramática inata é parte do patrimônio genético humano, não temos consciência de seus princípios estruturais da mesma forma como não temos consciência de outras propriedades biológicas e cognitivas que temos.
Chomsky descarta a possibilidade de a linguagem ser aprendida, já que só se pode contar com migalhas de fala ouvida pelas crianças, que não fornecem pistas suficientes para o estado final da língua a ser aprendida.
A versão da gramática generativa de Chomsky, aborda também que a criança que está a aprender uma língua precisa adquirir apenas os itens necessários (isto é, as palavras) e fixar os parâmetros relevantes.
Esta abordagem baseia-se na rapidez espantosa com quais as crianças aprendem línguas pelos passos semelhantes dados por todas as crianças, e também, pelo fato de realizarem certos erros característicos quando aprendem a sua língua mãe, enquanto que outros tipos de erros aparentemente lógicos nunca ocorrem. Isso acontece porque as crianças estão a empregar um mecanismo puramente geral baseado em sua mente e não especifico baseado na língua que está sendo aprendida.


Aquisição da Linguagem

As pessoas parecem adquirir sua língua materna, no mesmo ritmo e de forma parecida. Segundo, (STEMBERG, 2008), “desde o primeiro dia os bebes parecem estar programados para sintonizar com seu ambiente lingüístico, com o objetivo especifico de adquirir linguagem”.
Porém, o essencial para o inicio da linguagem está na interação que ocorre entre o adulto e a criança.

(...) Por outro lado, não falaremos de aprendizagem ou do ensino de linguagem. Por quê? A evolução descrita é aquela que segue naturalmente seu curso que de alguma forma faz parte da evolução normal de uma criança. A formação da linguagem não é objeto de uma aprendizagem. O que podemos ensinar a uma criança baseia-se naquilo que ela mesma já construiu; enriquecemos, melhoramos sua linguagem, mas isso não acontece logo no inicio. (AIMARD: 1998, p.58)


As crianças em processo de aprendizagem de uma língua materna, utiliza-se de vários métodos para se expressarem, como através de uma linguagem não verbal, com expressão facial, sinais, e também quando a criança começa a responder, questionar e argumentar.


Balbuciando

Sem levar em conta as mudanças biológicas que facilitem o desenvolvimento lingüístico que ocorrem nos primeiros meses de vida da criança, é o balbucio dos bebes de aproximadamente seis meses que sinaliza o começo da aquisição da linguagem. Esse período pode ser descrito como pré lingüístico, por que os sons produzidos não são associados a nenhum significado lingüístico.
Esse estagio do balbucio é marcado por uma variedade de sons que muitas vezes são usados em algumas das línguas do mundo, embora não seja a língua que a criança irá falar posteriormente
Primeiramente ela produz qualquer tipo de sons e depois há uma evolução no balbucio, pela qual ela progredirá e limitar-se somente ao sistema fonético da língua que estará exposta.
Aimard ressalta que essa evolução pode ser compreendida facilmente.

(...) a partir dos cinco ou seis meses, ela gosta de repetir sons que acabou de produzir, por prazer e para se exercita. Essas auto-imitações reforçam a ligação “forma acústica-forma motora”, que é uma espécie de esquema memorizado do fonema. A partir dessas primeiras tentativas, é provável que algumas crianças sintam necessidade de treinar mais do que outras e que para algumas isso seja mais prazeroso que para outras. (AIMARD: 2001, p.60)


Primeiras Palavras:

Poucos meses antes de completarem um ano as crianças produzem suas primeiras palavras. Durante esse estagio, as suas falas se limitam a uma palavra. Que são pronunciadas de maneira um pouco diferente da dos adultos.
Muitos fatores contribuem para essa pronuncia não usual, alguns sons parecem estar fora da escala auditiva das crianças. Sons que são difíceis para ela aprender.
Aimard nos diz que “(...) é provável as pessoas que rodeiam a criança nem se dêem conta das primeiras palavras”.
Dessa forma, mesmo que a primeira hipótese sobre aquisição da linguagem seja de que a criança simplesmente adquire sons e significados, a investigação das primeiras palavras da criança indica que o conhecimento adquirido por aquelas de um ano de idade toma a forma de um sistema rico de regras e representações. Esses sistemas abstratos foram deduzidos principalmente atavés das experiências das crianças na comunidade lingüística, as diferenças entre as gramáticas da criança e do adulto são compreensíveis.
Crianças nessa faze, podem pronunciar palavras de forma diferente e também querem dizer com essas palavras coisas diferentes, ou seja, querem expressar significados complexos com expressões curtas.
A medida que aumenta a complexidade da gramática que gerencia essas palavras, mesmo assim ela ainda continua sendo deficiente em relação á do adulto. O discurso das crianças entre dois e ter anos de idade é descrito como telegráfico, omitindo certas palavras como determinantes e preposições. Alem disso, existem problemas com as estruturas que não seguem uma regra geral, por exemplo, é comum as crianças dizerem em trazi, generalizando a regra dos verbos regulares. O interessante é que antes de cometerem este erro, elas passam por uma fase em que usam o verbo adequadamente. Uma explicação para essa regressão é que no inicio elas simplesmente imitam a formação do verbo, mas tarde, no entanto, após aprender a regra de formação, elas simplesmente a aplicam para todos os verbos. Porem, com o passar do tempo acabam aprendendo a forma certa, mesmo que seja através da memorização.
II parte

Entrevistado: Guilherme Pinto Bastos
Idade: 34 meses
Mãe: Aline Gomes Pinto
Pai: José Jauro de Araújo Bastos Filho
Cidade em que mora: Itapajé

O Guilherme é um garotinho muito esperto, ele foi o escolhido para a pesquisa. A sua mãe Aline, é ainda muito jovem, teve seu filho durante a adolescência, mas mesmo assim se mostrou uma mãe observadora e muito dedicada.
Em entrevista com a mãe do garoto, ela nos relatou quais foram as suas primeiras palavras.

Mama – (mamãe)
Papa – (papai)
Vovó
Não
Neném
Au au
Miau
Tchau
Nâna – a Joana sua tia
Nida – Ivanilda
Ine- Aline

As sua primeiras frases foram :

“ papai siá” - ( papai vamos passear).
Caiu mamãe
Neném da mama – neném da mamãe
Quer maisi – quer mais
Mamãe bora – convidando a mãe para ir embora
As primeiras perguntas:

Cadê o gagau? – perguntando pelo mingau
Cadê papai?
Cadê mamãe?

Palavras que geraram mais dificuldades na criança:

Melancia ( melancila)
Alfredo ( freto)
Morango ( lorango)

Cada criança progride conforme o seu próprio ritmo é impossível compreender a linguagem isolada do resto. Tanto em crianças aprendendo línguas diferentes, quanto em crianças aprendendo a mesma língua. Nenhuma seqüência de emergência pôde assim ser detectada segundo qualquer critério, a não ser o da extensão dos enunciados.
Esse critério, porém, além de meramente quantitativo, esbarra na dificuldade de identificar as unidades a serem contadas no enunciado da criança. Inicialmente a criança produz qualquer ruído, mas tarde esse ruídos evoluem , adaptando-se cada vez mais a linguagem das pessoas que o cercam.
Dentre as palavras que aparentemente coincidiam com as unidades da produção adulta, muitas não são produtivas na fala da criança, já que não comparecem senão uma vez ou outra em um determinado período.Outras tantas comparecem as vezes com certa freqüência, essas freqüentes podem ser palavras do cotidiano da criança, ao qual elas escutam com certa freqüência.
Ninguém sabe exatamente o que pode ser considerado palavra, apesar de certas mães serem realmente atentas à linguagem de seus filhos e observarem os ruídos produzidos por eles diariamente. Da mesma forma a mãe do Guilherme cita apenas as primeiras palavras a qual ela conseguiu identificar. Mas ele pode ter adquirido outras palavras anteriores a essas, mas que a mãe não conseguiu identificar.
Devemos levar em consideração também, que a influencia da mãe e também da família é muito importante nesse contexto, elas representam para a criança um modelo a ser seguido.

(...) Quando ele conversa com o adulto, este tende a repetir e a valorizar , sem mesmo perceber , os sons que pertencem a língua corrente... o [r] que ele envia é [r] pronunciado pela maioria dos franceses. Por meio de um jogo de imitações, de repetições, de reforços, de correções (dar a forma correta), o adulto modela o repertório fonético do bebê. (AIMARD: 2008, p.60)

Nas primeiras palavras do Guilherme podemos perceber a presença de onomatopéias , que fazem parte do repertorio de quase todas as crianças ( miau, au- au). Nomes de Pessoas (Nida, Nâna), e é claro as palavras mamãe e papai , que são as mais esperadas e geralmente as que são produzidas primeiramente pelas crianças. Porém elas podem ate produzir alguma palavra relacionada ao seu cotidiano antes mesmo de pai e mamãe, porem, a comunicação só será recebida por algum adulto que conhece a criança , seus hábitos verbais e a situação em que ela pronunciou as palavras. Todas as palavras da criança precisam de um contexto para ser entendidas.
Da mesma forma, o que acontece com as palavras, acontece com as frases, a comunicação só será possível se a sua frase for recebida por alguém que conhece os seus hábitos verbais e a situação que ela pronunciou a frase.
A criança não espera até os três anos para mostrar curiosidade e fazer perguntas, no caso do Guilherme , por exemplo elas começaram a surgir mais ou menos entre os 24 meses, mas somente a partir dos três anos que as perguntas vão surgir ainda com mais freqüência. Algumas chegam a ser ate mesmo insistentes.
Tudo acontece como se as crianças compreendesse intuitivamente alguns mecanismos da língua, a qual Chomsky chamou de gramática internalizada do falante. Aquelas que falam bem aos três anos continuam a progredir , mas as outras precisam da ajuda dos adultos
As considerações inicias da primeira parte, foram reforçadas ainda mais na segunda parte, na prática, ou seja, na entrevista com o Guilherme e os pais.

Conclusão:

Esperamos com esse trabalho atingir o nosso objetivo , e ter respondido as perguntas que me foram feitas. Com muito esforço e dedicação conseguimos concluí-lo, não foi fácil devido ao nosso tempo que é pouco e temos que dividi-lo entre os nossos trabalhos e o nosso curso e também tem a distancia, que para nós é também um grande empecilho.
Mas, foi muito prazeroso, pois é uma área pela qual manifestamos um imenso interesse. Esperamos atingir as expectativas esperadas, por nós, pelos entrevistados e também pelo nosso orientador. Embora tenha-se muito o que se estudar nesse vasto campo de estudo .

Referências:

AIMARD, Paule. O surgimento da linguagem na criança. Porto alegre: artmed, 1998.

BALIEIRO JR, Ari pedro. Psicolingüística. In MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina. (orgs.) Introdução a Lingüística: Dominios e fronteiras, v.2. São Paulo: Cortez, 2001.

SCARPA, Ester Mirian. Aquisição da Linguagem. In MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina. (orgs.) Introdução a Lingüística: domínios e fronteiras, v.2. São Paulo: Cortez, 2001.

STEMBERG, Robert. J. psicologia Cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2008.

MARTINS, Martins. A teoria behaviorista da aquisição da linguagem . Acessoem: 20/05/2009. Disponível em:<
http://www.profala.com/arteducesp71.htm>.


[*] Alunas do 3ª Período de Letras. Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA.

Os primeiros indícios da aquisição linguageira: a interação adulto-criança; a troca de olhares, sorrisos, postura





Sabrina Mônica Cunha de Azevedo*
Tony Robson Xavier Monteiro*
Valéria Mônica Rodrigues*




RESUMO


Este artigo teve como objetivo verificar os primeiros passos de aquisição da língua, no livro “O surgimento da Linguagem na criança”. Para tanto, procurou-se responder certas perguntas como: onde devemos situar o inicio da linguagem, quando se começa a balbuciar, as primeiras palavras, as primeiras frases, e ainda analisar se a linguagem é adquirida e se a criança adquiri a linguagem de forma normal de desenvolvimento maturacional dela foi utilizado o autor Paule Aimard para subsidiar teoricamente o trabalho. Pode-se concluir que o livro utilizado trata-se dos progressos que o ser humano passa durante a aprendizagem da língua, para descrever os principais indícios da linguagem.

PALAVRAS-CHAVE
Linguagem, Balhucio, Primeiras palavras, Primeiras frases, criança, Aquisição.

“A linguagem é literalmente uma dádiva do ser humano, ao contrario dos outros animais, que não possuem capacidade comparável, criou e instituiu para si, recursos precisos para a expressão, e dessa forma estabelecer comunicação recíproca”. Neste caso o homem já nasce com a capacidade de se expressar através da linguagem, todavia, esta é adquirida em conseqüência da convivência. Ao que se vê, é um processo de aprendizagem que se inicia muito cedo. Cada homem passa por este processo, contudo, não memoriza cada detalhe ou etapa desta realização. Aqueles que estão de fora acompanham passo a passo, apesar de não serem muitos os que atentamente observam e admitem a importância disso.
Por sua vez Paule Aimard em “O surgimento da linguagem na criança”, claramente sistematizou os primeiros passos da aquisição da linguagem. Segundo o autor o primeiro indício é a interação adulto-criança; a troca de olhares, sorrisos, posturas, voz. (Aimard, 1998, p. 56). Isto ocorre durante o procedimento diário, normalmente, da mãe com o bebê (no momento do banho , da mama, de vestir a roupinha, etc.). é uma linguagem Pré-verbal, e de grande importância, pois, ela é o elo entre o filho e suas necessidades com a mãe.
Durante os primeiros meses o bebê balbucia. O balbucio equivale a todos os ruídos de boca possíveis. Nesta etapa ele é inarticulado ou selvagem, porém inclui a maioria dos sons vocálicos. Daí, ele vai brincando com os sons e progredindo, e será que no final do primeiro ano já haverá uma grande evolução, conforme os modelos fonéticos que ela vai ouvindo. O bebê observa o adulto quando este fala, e vai tentando imitá-lo movimentando os lábios e é a partir daí que surgirão os primeiros balbucios. O adulto serve então de modelo para as crianças, é tarefa de eles modelarem o repertório fonético do bebê. A partir dos cinco ou seis meses, o bebê vai repetindo o que ele acaba de reproduzir, isto é necessário, pois, reforçará sua forma acústica e motora, que são maneiras que a criança encontra para memorizar o fonema. Infelizmente nem todas as crianças conseguem memorizar, e é preciso que ela treine mais, por iniciativa própria. Esses fatores comprovam-se no seguinte trecho:

“Há muito mais que imitação no balbucio. O bebê sente prazer de brincar com os sons, com a ajuda da voz.
Estes são os primeiros hábitos de jogo, quando o jogo é exercício, quando ele é habilidade e também é um jogo alegre. Existe um verdadeiro júbilo no balbucio, quando vemos um bebê idade espernear, agitar braços e pernas. O balbucio adquiri uma importância cada vez maior no esboço do diálogo. Pequenas conversas estão presentes em momentos de intimidade”. (AIMARD, 1998, p. 61)

Observa-se que também em diferentes línguas os primeiros sons do balbucio são os mesmos. Inicialmente os bebês aprendem a pronunciar as vogais não arredondadas que são: “a”, “e”, “i”, para depois as vogais arredondadas “o”, “u”. Neste processo importante que os pais ensinam seus filhos a dar beijo, pois este é uma espécie de consoante que envolve os quatro lábios. O beijo quadrilateral passa a ser um reforço para reproduzir as vogais arredondadas, e também é um estímulo para os músculos da fase, pois vai ajudar bastante quando ele for dialogar. Vê-se então que é um desenvolvimento bem rápido e eficaz, e que o primeiro ano é um exercício para o próximo.
Já no final do primeiro ano de vida o bebê já possui um balbucio bastante rico, o articulado, que já inclui a maioria das consoantes, e no segundo ano ele já pronuncia as primeiras palavras. Geralmente as primeiras palavras são “mamãe” e “papai”, que não são uma surpresa, pois são as palavras que os bebês mais escutam dos pais. Porém não se pode prever qual será a primeira palavra, mas, é certo que referir-se-á a alguma coisa do convívio da criança e será de forma simplificada. O adulto é um provedor de modelos, as palavras pronunciadas por eles serão repetidas pelas crianças, porém, de forma diferente no início, pois elas só conseguem repetir o final.

“Todos já percebemos que frequentemente a criança repete o fim da nossa frase, ou as últimas palavras, como se fosse um eco”. Isto recebe o nome ecolalia, e é muito construtivo, pois ao repetir, a criança memoriza a forma das palavras e adquire o hábito de utilizá-las. Isso ainda não significa que ela esteja dizendo essa palavra – como quando toma a iniciativa de mostrar ou de pedir – mas faz parte de uma etapa de preparação, de armazenamento de modelos, de treino. (Aimard, 1998, p. 64).

No período do terceiro ano é que as primeiras frases aparecem, esta se reduzem ao verbo e ao seu complemento. Na hora que a criança quer pedir, por exemplo, ela utiliza o verbo para expressar o pedido, e o complemento expressa aquilo que quer. Nesta etapa já fala em primeira pessoa (diz “eu”), já começa a perguntar, aliás, são muitas perguntas para que está iniciando, descobrindo o mundo. A maioria delas perguntam sobre algo que está sempre em volta, e percebem sua falta. Outras são questionamentos sobre repressões e limites dos adultos. Portanto as frases são simples, mas, exprimem um diálogo com aqueles que as cercam.
Portanto a fala no desenvolvimento infantil dá-se através da criança com o convívio social em que ela está inserida. A língua é adquirida como uma forma de conseqüência normal no desenvolvimento maturacional da criança. Pois de acordo com as fases da faixa etária, consequentemente aliados à disponibilidades das pessoas mais próximas, ela vai desenvolvendo sua habilidade quanto a maturação da língua em consonância com o convívio social.
De acordo com o tempo, a criança vai passando por suas sucessivas fases, onde, em cada uma delas, existe um comportamento correspondente a sua idade. Tanto os pais, irmãos, primos ou outras pessoas que estão à sua volta, podem colaborar para sua maturação lingüística.

Uma pesquisa realizada na cidade de Graça – CE, comprova o que se falou sobre o assunto. Ao que a mãe conseguiu observar nos primeiros indícios da linguagem em seu filho de apenas vinte e sete meses de vida, está claramente em consonância com esta abordagem. Segundo a mesma as primeiras palavras do bebê foram: “angu” aos dois meses e “papa” correspondendo a papai, aos cinco meses, pouco tempo depois veio mamãe. Isto porque o pai desempenhava um dialogo mais presente que a mãe.
Sobre as primeiras frases dita pelo bebê, foram: “Qué agá (quero água), Qué bebê (quero beber) e Qué me (quero comer)”, frases estas relacionadas sempre à necessidade dele. Outra característica é a repetição. A mãe diz: “Sempre que perguntamos, por exemplo: você quer bebê? Ele responde você quer bebê?”
As primeiras perguntas então foram sempre em busca de uma explicação. Segundo o pai: “Ele sempre pergunta o “por que” das coisas. Um exemplo disso é: Se eu pedir para ele não espalhar os brinquedos, ele logo pergunta: Por que não?”
Ele ressalta que, embora sue filho seja uma criança muita esperta, ainda sente dificuldades em pronunciar palavras que tenham “r” e “brinquedo”, ele só repete o final “edo”. Em algumas palavras até substitui o “r” pelo “l”.
Uma das estratégicas que mais utilizam para aquisição de seu filho é: pronunciar uma palavra é pedir que ele repita, sempre incentivando-o. Ele diz: “algumas palavras só basta eu falar uma vez, pois ele memoriza rapidamente”. A mesma também estimula-o a escutar músicas, assistir programas educativos e conversa muito com ele. “Acho Anael, uma criança super inteligente e comunicativa, ele fala tanto que parece que bebeu foi água- de-chocalho”. Comenta a mãe.
É essencial o dialogo dos pais com a criança, é preciso estarem atentos aos sinais de pedido, atendendo ao repertório de sons que estimula o surgimento, ou seja, a aquisição da linguagem na criança, de acordo com sua faixa etária, contribuindo dessa forma as adequadas referencias motoras em ligação consoante a idade, desde quando o bebê começa a sentar até quando expõe a capacidade de tirar as meias, e colocar os sapatos, um processo que anda passo a passo.

* Curso: Letras, habilitação – língua portuguesa, 3º período (manhã)
* Curso: Letras, habilitação – língua inglesa, 4º período (manhã)
* Curso: Letras, habilitação – língua portuguesa, 3º período (manhã)

BIBLIOGRAFIA

AIMARD, Paule. O Surgimento da Linguagem na criança. Tradução de Cláudia Schilling. Porto Alegre: Artmed, 1998.


A criança, ao se relacionar com o meio ambiente, começa a pôr em prática suas características linguageiras

Dejane Oliveira de Sousa *
Mara Rogelma Soares Torres *
Maria Cassiana Farias Silva *


RESUMO
A criança, ao se relacionar com o meio ambiente, começa a pôr em prática suas características inatas. À medida que o adulto lhe proporciona condições de explorar tudo o que a cerca, agindo de acordo com seu interesse, a criança dá início às primeiras palavras, conhecidas como balbucio. Essa conquista de espaço, por parte da criança, lhe dará suporte para um melhor conhecimento de seu corpo, de suas habilidades de movimento, ou seja, seus referenciais motores. Durante essa fase de aquisição, alguns atrasos podem ser detectados, surgindo, também, muitas superstições para resolvê-los.

PALAVRAS-CHAVE
Balbucio. Referenciais motores. Primeiras palavras. Atrasos. Superstições.

1. INTRODUÇÃO
Constantemente temos a curiosidade de saber onde se inicia a aquisição da linguagem (suas possíveis etapas). Por meio de vários estudos sobre o assunto, obtemos muitas informações, às quais tentaremos repassar e incorporar à vida de muitas pessoas, principalmente as mães, fazendo-as entender a importância desses conhecimentos referentes ao processo de aquisição da linguagem.

2. DESENVOLVIMENTO
Sabemos que há uma trajetória normal no desenvolvimento da aquisição da linguagem. Começando pela definição de linguagem: linguagem é um sistema finito e autônomo, “um aspecto da capacidade cognitiva humana” (CHOMSKY: 1975), “é um sistema finito de princípios e regras que permitem que um falante codifique significado em sons e que um ouvinte decodifique sons em significado.” (GERBER: 1996, p.52).
Sendo uma trajetória normal, as crianças adquirem uma linguagem em um processo normal, que rege um percurso aparentemente igual, todavia, neste pode ocorrer um atraso que, por um lado, ao ser trabalhado, pode ser reversível e ter um motivo específico. Por outro lado, existem casos ocasionados por problemas de saúde como uma doença neurológica, sendo bem mais complicado o seu tratamento, mas não impossível.
Como exemplo ao último caso citado, os problemas de aquisição da linguagem em categorias como “afasia evolutiva”, “disfasia evolutiva”, que estão relacionados a transtornos derivados de lesões em determinadas áreas cerebrais. Já o “retardo de linguagem” e “transtorno evolutivo de linguagem”, que estão relacionados ao ritmo e à velocidade de aquisição. Porém, cabe-nos situar todo o processo de construção da linguagem, indicando as possíveis etapas, diz-se possíveis por não ter uma divisão clara, embora, no processo, a construção seja encaminhada progressivamente e misturada, ou seja, não há uma época somente para os fonemas, outra para as palavras, etc.
A princípio, seria inevitável saber onde todo o surgimento da linguagem se dá. Vários estudos já foram feitos e tiveram algumas conclusões, estas indicam que, nos primeiros meses de idade, a criança produz sons, detêm-se aos olhares, sorrisos, posturas e voz, ou seja, vários fatores se entrelaçam e fazem surgir os primeiros sinais de linguagem, o chamado “balbucio inarticulado”, onde a criança utiliza a maioria dos sons vocálicos, que alguns o chamam de “balbucio selvagem”.
Os referenciais motores são fundamentais no processo de aquisição. Como exemplo, podemos citar: aos três meses de idade a criança começa a levar algum pano à boca ou, até mesmo, a questão da chupeta (tão criticada por alguns); este fato é importantíssimo ao processo, pois ajuda na aquisição ou aprendizagem dos fonemas nasais, das vogais e das consoantes bilabiais. Um outro exemplo: todos percebem que as crianças tendem a manter o olhar fixado na nossa boca ao falarmos, isso leva elas a terem percepção das articulações que surgem ao produzirmos os sons da fala (fones), além de, dos seis aos oito meses de idade, a criança se divertir com o barulho produzido. Neste momento, ocorre uma discriminação auditiva, que ajudará na percepção dos fonemas da língua.
Entre tantos outros, estes referenciais motores são importantes no processo de desenvolvimento da linguagem e ocorre, no seu início, por volta do segundo ou terceiro mês de idade, o fato da criança adquirir diversos fatores que favorecem ao seu longo processo de aquisição, como foi descrito acima. E vale ressaltar que parece haver esta construção (balbucio inarticulado) em todas as crianças, no mesmo período de tempo, até mesmo naquelas que, por ventura, não fizeram uso da linguagem falada (mudas).
No balbucio inarticulado há a interação adulto-criança. A comunicação se passa por olhares, posturas, voz; como diz Paule Aimard “estamos assistindo, sem dúvidas, ao início da linguagem” (AIMARD: 1998, p. 56).
Com o início da linguagem (balbucio inarticulado), que também chamamos de “pré-linguagem”, a criança passa ao “nível” seguinte (lembrando que não estamos sugerindo etapas, pois todo o processo é um conjunto, e as coisas acontecem quase ao mesmo tempo). Com o decorrer do processo, a criança passa a adquirir voz e suas modulações (estamos nos referindo àquelas que terão a capacidade de falar), e o balbucio evolui, passando a ser articulado, momento em que a criança apresentará apenas os distintos fonemas que caracterizam a primeira língua da criança, ou seja, passa a modelar a língua.
Aqui surge uma dúvida: se a linguagem surge de uma estrutura cognitiva inata e específica; se ela é semelhante a todos os outros comportamentos adquiridos ou se é resultado da aprendizagem de interação com o meio social ao qual a criança está inserida. Mais adiante iremos voltar e trabalhar melhor essa questão. Agora iremos fazer uso da seguinte afirmação: “elas crescem falando e entendendo a linguagem dos seus pais e, na maioria das vezes, tornam-se proficientes no uso desta linguagem em contextos sociais e educacionais” (GERBER: 1996, p. 52) e valorizar a ação dos pais, pois, neste momento, a criança ouve constantemente os adultos conversarem ao seu redor e levam este repertório fonético de sua língua mãe, através da “imitação”, para sua vivência pessoal.
Dessa forma, é super importante que o ambiente em que a criança viva seja um ambiente onde a linguagem flua, ou seja, que haja bastante conversação, estimulado a criança a reproduzir os sons e favorecendo no seu desenvolvimento lingüístico.
Segundo Aimard, “há muito mais que imitação no balbucio” (AIMARD: 1998, p. 61). Para ele, a criança sente prazer de brincar com sons, com a ajuda da voz. Assim, nesse jogo de repetir o que escuta, até mesmo a repetição da própria fala, ela tende a aprimorar sua fala, principalmente por volta do 12º mês, quando apresenta um balbucio bastante rico.
Nesta fase, ocorre o que chamamos de “reduplicação silábica”, da qual surgirão as primeiras palavras, que, mesmo sendo vagas, são consideradas, por uns, como as primeiras palavras. São estas vagas palavras que permitirão o reconhecimento do que a criança está pronunciando, como por exemplo, quando a criança diz “dada” para referir-se a sua babá, caso seja uma pessoa que esteja fora do convívio da determinada criança, não será possível o real entendimento da palavra dita.
Por volta do 24º mês de idade, a criança produz realmente as primeiras palavras. São esperadas “papai” e “mamãe”, porém, não se deve estranhar se estas não forem as primeiras. Nessa mesma idade, as crianças começam a freqüentar a escola (creche), esse fato as leva ao contato contínuo com outras crianças, aumentando, assim, o seu repertório fonético.
Com a aquisição dessas primeiras palavras, elas tendem a “cometer erros de super-extensão, nas quais estendem o significado de uma palavra para englobar mais conceitos do que a palavra visa englobar”, (STEMBERG, p. 323), além de evitarem palavras que não conseguem dizer e apresentarem preferência por palavras que conseguem dizer.
Ao final do 24º mês de idade, como já aprendeu cerca de 10 palavras, além de “papai” e “mamãe”, e compreende um número muito maior, passa a produzir enunciados constituídos por cerca de duas palavras, o que Paule Aimard chama de “palavra-frase”. Esses enunciados serão os precursores, ou melhor, o esboço das primeiras frases.
Porém, somente no 36º mês de idade é que a criança adquirirá os principais aspectos da língua: o sistema fonético, o léxico, as formas gramático-sintáticas, que a favorecerão nas produções frasais. Nesta idade, que alguns chamam de “idade de ouro da linguagem infantil”, as aquisições são várias e levam a um desenvolvimento muito rápido e progressivo.
Voltemos ao ponto do inato e do adquirido. Como havíamos dito antes, parece haver um dispositivo inato para a criança adquirir linguagem, porém, será que, se não existisse a ação do meio, ela iria obter a aquisição? Paule Aimard nos diz: “mesmo se admitirmos que a criança possua aptidões inatas, uma espécie de pré-programação das estruturas de linguagem, não constrói nada se não tomar um banho de linguagem.” (AIMARD: 1998, p. 92). A partir da afirmação, pautamos que, mesmo que seja inata essa aquisição, precisamos ter exemplos e modelos, os quais iremos seguir.
Comumente, a criança não extrai esses modelos apenas da interação, pois é forte a presença da televisão em sua rotina. No momento em que a criança faz uso da televisão, é importante a presença de um adulto, instruindo-a, para que seu mundo não seja dominado pela ficção, onde tudo é possível. De acordo com Adele Gerber: “as interações sociais são os cenários dentro dos quais a criança participa ativamente com o usuário maduro da língua, para adquirir a função comunicativa da língua.” (GERBER: 1996, p. 61) e aprende que a língua pode ser usada para pedir, expor, enfim, comunicar-se.
A partir do 36° mês de idade, a criança se desenvolve maturacionalmente, ou seja, à medida que cresce, ela adquire maior desenvolvimento. Lembrando, também, que, a partir desta idade, a criança ingressa na pré-escola e, consequentemente, ocorre o amadurecimento de suas habilidades, como nos cita Grunwell (1996): “diversos estudos sugerem que as crianças continuam a amadurecer em suas habilidades perceptivas durante seus anos escolares.”
Mesmo algumas crianças apresentando problemas de aquisição, é nesta fase que reside o progresso da maturidade infantil. Em certas crianças se dá de maneira mais demorada (atraso); já em outras, de forma mais rápida.
Entra aqui uma questão: superstição. São várias as várias superstições existentes quando a criança apresenta esses atrasos na fala, sendo submetida a experiências próprias das pessoas mais velhas, que acreditam apresentar a “cura” do problema.
Daremos alguns exemplos dessas experiências, a começar pela famosa água de chocalho, a qual leva a crendice que, ao dar água num chocalho para uma criança que ainda não fala, ela passará a falar até mais que uma outra já falante.
Outra crendice seria o “miolo de cancão”. Nesta, em vez de água, a criança terá que comer miolo (massa da cabeça da ave), para que dê início à prática da fala.
Uma outra crença é a seguinte: colocar um pinto (filhote da galinha) para piar na boca da criança, provocando, assim, a fala.
Todas essas superstições (acredita-se) foram construídas no período em que não se tinha reais explicações para a aquisição da linguagem. E, por coincidência ou força do tempo (quando é chegada a hora natural da aquisição), após serem submetidas a esses “testes” caseiros, a criança começa a falar, alimentando a imortalidade dos mitos, como os descritos acima.
Iremos usar de dados reais para expormos todas as informações já mencionadas, além de exemplificarmos, constatarmos e elaborarmos uma melhor compreensão do que já foi dito.
Vamos partir do relato de uma mãe, a quem chamaremos de “Ana”, mãe de uma criança de 34 meses de idade, que chamaremos de “Pedro”. As várias perguntas que foram feitas à mãe serão relatadas e comentadas.
Perguntamos quais foram as primeiras palavras pronunciadas por Pedro. “Não lembro com exatidão, porém, as que eu lembro foram: papai, mamãe, água, neném, bebê (para se referir a si mesmo). Nem sempre era uma palavra, às vezes apenas uma letra era usada para se referir a algo, como, por exemplo, (d), para indicar o DVD; dada, para indicar a babá”, responde a mãe.
Comprovamos aqui, como já era esperado, que as primeiras palavras a serem pronunciadas são palavras que determinam, identificam algo importante para a criança. E o que seria mais importante na vida de uma criança do que seus pais? A mãe só não respondeu com precisão em qual idade foram detectadas essas primeiras palavras. Mas, numa média universal, ocorre nos primeiros 12 meses de vida.
Ao passo seguinte, perguntamos quais foram as primeiras frases. Ela hesitou, com dificuldade de lembrar, principalmente pelo fato do desenvolvimento de Pedro ter sido muito rápido, mas logo vieram flashs, citando dois exemplos: “Lembro dele ter dito “quelo sistir evisão”, para falar, “quero assistir televisão”, algo que desde pequeno adora fazer. Outro exemplo foi: “quelo omer”, para dizer, “quero comer”.
Através dos dois exemplos, detectamos, então, a junção de poucas palavras do seu repertório, ou melhor, do seu vocabulário, que, juntas, já exprimiam algo que ele queria.
Quando perguntamos quais foram as primeiras perguntas, a mãe não teve muita dificuldade em responder. Ela disse que, nessa fase, Pedro exagerou, pois queria saber de tudo ao mesmo tempo. “Bom, ele fazia (e faz) muitas perguntas, mas as primeiras foram: “adê mamãe?” (cadê a mamãe?);“ adê papai?” (cadê o papai?); “onde vucê vai?” (onde você vai?)”, disse ela, antes de complementar que ele perguntava o que era algo várias vezes, como se tivesse brincando com ela.
Ana relata que as primeiras palavrinhas foram pronunciadas com dificuldades ou ditas pela metade, porém, com o decorrer do tempo, evoluiu e passou a pronunciá-las mais articuladamente. Vê-se que a criança pesquisada não teve dificuldades, progredindo no ritmo normal.
Ao observarmos a criança, vemos que ela é super inteligente, fala muito, se expressa muito bem, todavia, a mãe nos relatou: “Elaboramos uma estratégia (eu, meu marido e a babá), que continha as seguintes regras: ao falar com Pedro, fazer a pronuncia de cada palavra pausadamente, fixar os olhares enquanto estivéssemos falando e pedir para que ele repetisse.” É perceptível o cuidado da mãe nessa fase de aquisição da linguagem de Pedro, minguando as possíveis dificuldades que pudessem surgir.
Seria interessante, assim como fez Ana, se pudéssemos acompanhar e avaliar uma criança, descobrindo, aos poucos, o andamento do seu processo. Mas acompanhar (um pouco) da experiência com o garoto Pedro, de 34 meses, já foi incrível, pois, através dela, pudemos observar várias etapas estudadas, comprovando-as.

3. CONCLUSÃO
Resumindo todo o processo, a criança, durante o 12º mês, produz diversos sons; começa a balbuciar; evolui o balbucio; reduplica os fonemas que produz.
No 24º mês, adquire mais fonemas de sua língua materna; surgem as primeiras palavras; vai construindo, aos poucos, o seu vocabulário, que junta as palavras e forma pequenas frases.
No 36º mês de idade, continua a aperfeiçoar o que aprendeu e adquirir novos conhecimentos; aprende a maioria dos fonemas; explode o seu vocabulário; surgem as perguntas, as curiosidades e a aquisição das formas gramaticais, ou seja, ocorre o desenvolvimento normal, à medida que a criança cresce.
Algumas crianças progridem mais rápido que outras; atraso ocasionado, talvez, por estarem inseridas num meio social com menos conversação. Sem treino, a obtenção do nível fonológico não é bem desenvolvida, porém, o que se pode constatar é que, com ou sem atraso, as crianças adquirem a linguagem, ou seja, a aquisição é real, mesmo que, em algumas vezes, falha.

4. REFERÊNCIAS

1. AIMARD, Paule. O surgimento da criança na criança. Tradução de Cláudia Schilling. Porto Alegre: Artemd, 1998.

2. BALIEIRO JR, Ari Pedro. Psicolingüística. In MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina. (orgs.). Introdução à lingüística: domínios e fronteiras, v.2. São Paulo: Cortez, 2001

3. SCARPA, Ester Mirian. Aquisição da linguagem. In MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina. (orgs.). Introdução à lingüística: domínios e fronteiras, v.2. São Paulo: Cortez, 2001.

4. SHAYWITZ, Sally. Entendendo a dislexia: um novo e completo programa para todos os níveis de problemas de leitura. Tradução de Vinicius Figueira. Porto Alegre: Artmed, 2006.

5. STERNBERG, Robert J. Psicologia cognitiva. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.



Dejane Oliveira de Sousa , Mara Rogelma Soares Torres eMaria Cassiana Farias Silva são alunas do Curso de Letras da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), em Sobral. Este artigo resulta de estudos e pesquisas da disicplina AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM, ministrada pelo professor Vicente Martins.

OS PRIMEIROS PASSOS DA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM NAS CRIANÇAS



Francisca Luana Feijão**
Francisca Maria da Penha P. Martins**
Graziele Rodrigues Mesquita**



RESUMO:


Este texto trata a respeito do surgimento da linguagem na criança, com a elaboração deste estudo pretende-se aumentar as pesquisas sobre a aquisição da linguagem na criança e a compreensão sobre o assunto, destina-se àqueles que se questionam sobre os “porquês” e o “como” a criança adquire linguagem. Para sua elaboração foram estudados vários textos e realizadas pesquisas com crianças na faixa etária de zero à três anos de idade. Ao final do trabalho constatou-se que não se pode estabelecer regras para a aquisição da linguagem, pois este aprendizado depende muito do ritmo de cada criança, de suas condições de vida e interação social.
PALAVRAS- CHAVE: Linguagem. Criança. Interação.
Para sermos francos é um pouco difícil dizermos onde vai estar situado o inicio da linguagem.
Logo de inicio, é difícil para a criança desenvolver a produção da linguagem sozinha, ou seja, sem o acompanhamento de uma pessoa que conviva diariamente com ela, sendo de extrema importância a interação dos pais e filhos. Nessa visão, Aimard (1998) afirma: “Esses momentos de interação adulto-criança são cenas de comunicação muito comuns”. Todos podem viver momentos semelhantes a qualquer momento com seus próprios filhos.
Os Bebês são muito espontâneos, eles riem, choram, brincam, gritam e tentam muitas vezes imitar gestos e sons dos adultos, principalmente dos pais.
Os pais estão sempre interagindo com os filhos, sendo que com a mãe a interação é bem maior. Esse contato vai facilitar muito para o início da linguagem.
A mãe interage com o filho em diversos momentos. No banho, por exemplo, a criança vai ter diversas reações: ela vai chorar, ou vai brincar com a água, entre outras ações. Também na hora da refeição, quando a mãe vai dar a comida, a criança pode não estar com fome e vai reagir de alguma forma, ou através de gestos, balbucios ou choro. Outro momento muito importante para as crianças é na hora da brincadeira com os pais. Irá ser a hora de lazer, descontraída, onde realmente a criança realizará todas as suas vontades. São esses fatores que irão levar ao inicio da linguagem.
Outro ponto importante para que a criança comece a desenvolver sua linguagem, será dela prestar muita atenção nos movimentos nos lábios que os adultos fazem isso vai fazer com que a criança sinta-se estimulada e repita os movimentos, fazendo assim com que ela exercite os lábios e ajude com o desenvolvimento da linguagem.
O balbucio, que é a expressão oral dos bebês, supostamente ira ser as primeiras “falas”. Esse balbucio começa a partir do segundo ou terceiro mês, o bebê modula sua voz, produz diversos sons, começando assim a balbuciar. Quando o bebê produz esses sons e ruídos que não são necessariamente falas, é determinado como um balbucio “selvagem”, somente depois há uma evolução desse balbucio, que aos poucos se molda ao sistema fonético da linguagem.
É importante salientar, que o balbucio é uma espécie de imitação, isso ocorre quando lhe dirigem conversas, dessa forma o bebê passa a balbuciar ainda mais, e esse balbucio é acompanhado pelo momento em que o bebê se alegra com as palavras que a mãe lhe dirige com voz carinhosa, despertando na criança uma compreensão do que ela está dizendo.
Quando os bebês saem da fase do balbucio, começam a produzir realmente palavras. Isso se dá por volta do segundo ano. As primeiras quase sempre são papai e mamãe e não há nada de surpreendente nisso. O [a] é geralmente a primeira palavra vogal pronunciada, e o [p] e o [m] pertencem ao grupo das primeiras consoantes. Sendo que a partir desses fatores a crianças começam a duplicar as silabas e conseqüentemente irá produzir suas primeiras palavras.
Quando a criança vê o pai, ela pode mudar o léxico papai para “papa”. Poderá chamar mãe de “mama”, mas para alguns bebês “mama” também pode ser a mamadeira. Sempre as primeiras palavras estarão se referindo a vida cotidiana da criança, sendo palavras simples e concretas.
As primeiras palavras serão de grande serventia para a criança. Permitindo falar de pessoas de sua vida, a água, o gato, dormir, chupeta, sapatos, mamãe e outros.
Geralmente não compreendemos muitas das palavras pronunciadas pelas crianças de três anos abaixo. Às vezes pedem alguma coisa, ou querem aquela determinada coisa, fica difícil de entender, e isso nos leva a ter mais paciência e tentar compreender o que elas estão querendo nos dizer, sem demonstrar impaciência, pois a criança sabe muito bem o que quer dizer e conhece a palavra, só não é capaz ainda de pronunciá-la completamente.
Por isso é necessário sondar a criança até conseguir descobrir o que ela quer. Quando começam produzir as primeiras frases duplicam as palavras, mas nem sempre as frases têm mais de uma palavra.
Quase sempre as crianças, na faixa etária de zero aos três anos, produzem palavras cujo sentido quer dizer muito mais. A criança constrói sua língua a partir de formas orais que escuta. Ela não limita as palavras, sendo que naturalmente irá adquirir pedaços de discursos.
Geralmente as crianças prestam atenção no que falamos, nos nossos gestos e atividades, através disso tentará fazer igual, imitar isso facilitará muito as palavras e, principalmente as suas primeiras frases, que normalmente não são de imediato completa.
A criança fala por prazer, discutindo com os outros, toma a iniciativa de fazer comentários, de expressar seus próprios sentimentos.
É muito interessante e muito importante prestarmos atenção no que as crianças falam, nos seus gestos, pois isso facilitará a nossa compreensão para descobrir o que elas querem, as emoções que estão tentando passar para nós.

Como podemos observar em argumentações anteriores, às crianças passam a adquirir a língua materna através dos pais, ou seja, precisam de um reforço para desenvolver sua linguagem, necessitam de pais atentos ao que elas dizem. É com a ajuda dos pais que as crianças passam a melhorar sua linguagem, através de correções, pois como se sabe não é de inicio que a criança tem um linguajar altamente acessível a nossa compreensão, nesse pensamento Aimard (1998) afirma que “o adulto reforça e torna precisas estas primeiras palavras. É preciso compreender, depois traduzir ou repetir na forma correta aquilo que a criança pronunciou a sua maneira”.
Os pais são os principais testemunhos das primeiras palavras do filho, o que nem sempre significa que eles conseguem compreender tudo que a criança diz, pois muitas vezes o adulto não fica atento ao que esta pronuncia, como se fosse qualquer coisa que a criança fala sem nenhum sentido, no entanto, na maioria das vezes apenas uma palavra, ou seja, um pedaço de enunciado, quer dizer muito mais.
A maior parte das crianças diz palavras simplificadas com voz aguçada, que somente as pessoas da família podem entender, as quais já estão acostumadas a ouvirem certas palavras vagas, isso porque às crianças não produzirem discursos longos com mais de quatro sílabas e, às vezes elas tendem a engolir o final das palavras.
É intrinsecamente excepcional a interação dos pais no desenvolvimento da linguagem da criança. Simplesmente por eles serem uma espécie de modelo que as crianças imitam. Este fator se torna mais claro através do que chamamos heteroimitação, que se dá quando o bebê ouve as conversas de adultos ao redor dele, o que desenvolve um interesse por parte da criança em ouvir essas produções e, a partir daí ela memoriza as palavras consequentemente aumentando seu léxico.
É importante enaltecer o papel fundamental que a mãe desempenha, pois esta ao conversar com a criança desperta nela um interesse em repetir a palavra que diz, só pelo fato da mãe dirigir palavras imperativas, como mandando a criança falar a palavra que ela produziu no sentido que esta aprenda.
É bem interessante o desempenho da criança com novas palavras que a mãe lhe oferece, por mais que a mãe ensine a criança, por volta dos dez meses, ela só é capaz de emitir sons através de formas repetidas, a partir dessa afirmação Aimard (1998) comenta: “por volta dos dez meses ou um pouco depois, a criança começa a gostar de brincar com formas repetidas, juntando dois fonemas como “dadada”, “bababa” ou “papapa”.
Dizemos que a mãe é a principal responsável no desenvolvimento do linguajar de seu filho, mas existem crianças que independente de ter o adulto para que possa lhe ajudar a evoluir sua língua, possuem mais facilidade em progredir sem muito acompanhamento da mãe ou até mesmo com o passar dos anos, pois de mês em mês as crianças tendem a aumentar seu vocabulário. Já outras crianças possuem a fala mais atrasada, que mesmo com a idade de uma criança mais evoluída, é como se fosse uma criança de dois anos.
Com o passar dos anos, a criança cada vez mais estende seu léxico, pois a partir de seu amadurecimento ela consegue conversar com os adultos, e isso vai ajudando no aprendizado de palavras novas. Há crianças que perguntam uma coisa a um adulto, este responde a sua pergunta, normalmente ela tende a perguntar outra vez, essa é uma forma da criança tentar entender o que o adulto está lhe dizendo; muitas vezes ela pergunta até este responder de uma forma que a criança compreenda, mas muitas vezes a criança está querendo brincar com a pessoa, para que esta se aborreça.
Muitas vezes as crianças fazem perguntas sobre o significado das palavras, isso deixa o adulto sem explicações, pondo-lhes em apuros, pois na maioria das vezes elas perguntam muito, querem saber de tudo o que se passa ao seu redor.
É a partir dos três anos que a criança consegue pronunciar muitas palavras sem precisar da correção do adulto, pois ela já tem um linguajar bem desenvolvido, a não ser em outros casos em que ela faz confusão com a troca de palavras. Essa é a fase que a criança toma a iniciativa de contar historias, sem precisar da interação do adulto. É nessa idade que ela começa a viajar pelo mundo dos sonhos e da fantasia, como afirma Aimard (1998): “A criança sabe contar muitas coisas, misturar coisas, misturar pedaços de realidade, lembranças e um pouco de sonho (partir com papai para o pais das estrelas)”.
Não é mais o adulto quem toma a iniciativa de fazer com que a criança diga as palavras para que aprenda, mas ela mesma que interage, faz seu próprio comentário. Desse modo pode-se dizer que a criança adaptou-se às palavras que escuta ao seu redor, extraindo os modelos das conversas de adultos; consegue ainda captar em sua memória as palavras as quais os adultos pronunciam.
Mesmo que haja crianças que conseguem se adaptar a sua língua materna facilmente, conseguindo falar praticamente quase todas as palavras com um vocabulário mais adequado a nossa linguagem; há também aquelas que, ainda tem um vocabulário arcaico, como se fosse uma criança de dois anos. Como cita Aimard (1998): “por exemplo, uma criança de três ou de quatro anos que utiliza apenas seu nome próprio para falar, no tocante ao manejo da linguagem, está no nível de uma criança de menor idade”.
A seguir será apresentada uma pesquisa que foi elaborada com base nas informações vistas até aqui e no estudo realizado com crianças de zero a trinta e seis meses. Além da observação de várias crianças, observou-se especificamente o caso de Maria Clara de vinte meses de idade.
De acordo com a observação durante todos os meses da criança e dos relatos da mãe, as primeiras palavras de Maria Clara foram: papa, apesar de nunca ter visto o pai os visinhos e a mãe a ensinava, em seguida mama, logo depois papai e mamãe completos; essas duas primeiras palavras foram seguidas de dá, peto, gato, cocó (galinha), pato, ovo (com um ano de idade), pé, dalha (sandália), ío (referindo-se ao seu irmão Ciro).
As primeiras frases de Maria Clara iniciaram-se por volta dos 18 (dezoito) meses, estas mais ou menos em sequência foram: dá peto, papai shéu, mamãe cocó, vai boa (vai embora), bo paxiá (vambora passear), ui o bicho, dá mamãe peto, dá xi cacá (dá bala), anda cio (anda Ciro), abe a pota, ovo apote (ovo de capote), dó nenê a cuca peá (dorme nenê que a Cuca vem pegá), dá aô (dá o telefone), fô buíta (flor bonita), aô peã (alô penha), gato peto (gato preto), coin gato (come gato), mais recentemente, quando sua mãe lhe ensinava contar os dedos pronunciou esta frase bem maior: um, doje, cato, xinco dedo (um, dois, três, quatro, cinco dedos).
Apesar da maioria das crianças iniciar a produção de frases a partir do terceiro ano de vida, Maria Clara já faz algumas perguntas com apenas vinte meses, estas são: tadê mamãe? (frase pronunciada um pouco antes dos vinte meses, nos momentos de ausência da mãe), é uixx é mamãe? (é luz é mamãe), tadê nenê?
Clarinha tem dificuldade para pronunciar as palavras galinha, leite, padrinho, sem vergonha, macarrão, constantementes ensinadas pela mãe, entre outras. Quanto as estratégias que a mãe usa para que ela aprenda novas palavras são: falar e pedir para ela repetir; falar o nome de objetos no momento em que aponta para eles; ensina-lhe a contar objetos até cinco, os dedos por exemplo.
Vale ressaltar algumas observações do cotidiano de Maria Clara, que brinca diariamente com seus irmãos Ciro e Iasmim, aquele com dez e esta com sete anos. Observou-se que particularmente a menina de sete anos, que gosta muito de conversar, ensina bastante palavras novas para Maria Clara e já usa a linguagem dirigida às crianças. Além dos irmãos, dos vizinhos que lhe dispensam grande atenção, da mãe e da televisão ensinando palavras novas à Clarinha, ela possui vários referenciais motores ao seu favor: deste que nasceu vê os irmãos brincando, correndo de um lado à outro da casa, isso provavelmente lhe estimulou a produzir movimentos; com apenas treze meses ela andava, bebia sozinha no copo, abria a cancela de sua casa.
De acordo com a comparação feita entre Maria Clara, o texto “Aquisição da Linguagem na criança” de Aimard, e outras crianças observou-se que Clarinha está um pouco acima da média, já que produziu frases e perguntas antes da maioria das outras crianças, além de possuir desde os dezoito meses um vocabulário bastante grande para sua idade. Essa observação mostra a importância da interação da criança, em fase de aquisição, com o adulto e com outras crianças, que não existe uma idade predeterminada para o desenvolvimento das primeiras palavras, frases ou perguntas, mas cada criança tem seu próprio ritmo, e o desenvolvimento dessas habilidades tem muito a ver com o cotidiano em que a criança vive, portanto os pais não devem se preocupar com o fato de seus filhos estarem um pouco acima ou abaixo da média.

REFERÊNCIAS:
AIMARD, Paule. O surgimento da criança na linguagem. Porto Alegre: Artmed, 1998.




Francisca Luana Feijão**Francisca Maria da Penha P. Martins eGraziele Rodrigues Mesquita são alunas do Curso de Letras da UVA, em Sobral. Este artigo resulta de estudos e pesquisas durante a disciplina AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM, ministrada pelo professor Vicente Martins

Que critérios devemos adotar para afirmar onde e quando se dá o surgimento da nossa linguagem?




Maria Verônica Paula Ferreira
Francisco Alcides Martins Junior
Jessé de Sousa Mourão



É difícil ser categórico ao tentarmos situar o início da linguagem. Que critérios devemos adotar para afirmar onde e quando se dá O nascimento da nossa linguagem? Serão indagações difíceis de responder.
Segundo Paule Aimard, em seu livro “O surgimento da linguagem na criança”, a linguagem nasce a partir da interação adulto-criança, do desejo intenso de se comunicar com o outro. Inicialmente, essa comunicação se dá por olhares, sorrisos, posturas e voz, escreve Aimard. Vejamos um trecho retirado do livro de Paule Aimard onde ela descreve essa interação adulto/criança e o surgimento da linguagem:

“... um olhar intenso, largo sorriso prolongado, e depois a criança emite um longo “rrr” seguido de “aeee”, modulando a voz. Recomeça e retoma, com uma expressão quase grave, como se estivesse fazendo algo muito importante. A mãe intervém muito pouco, responde “arre”. Um esboço de conversa.”


Estes são os primeiros contatos entre adulto-criança e o contato que a criança tem com a linguagem. A mãe, naturalmente, cumpre este papel de apresentar a linguagem para o bebê, não só a linguagem falada. Outras formas de comunicação serão ensinadas e captadas pelas crianças.
O homem, certamente, sente uma necessidade e um desejo de se fazer entendido por outras pessoas. Essa necessidade surge logo nos primeiros meses de vida e vai aumentando à medida que a criança vai crescendo. Comunicar-se é, sem dúvida, uma necessidade inata dos homens.
“Um bebê, mesmo quando ainda não emite nenhum som significativo, já consegue se comunicar através de outros tipos de linguagem como olhares, gestos, sorrisos etc.” (Paule Aimard, 1998).
Mais tarde, a criança começará a produzir ou a imitar alguns sons. Começa a fase em que o bebê irá murmurar ou balbuciar. “Segundo Aimard, por volta dos dez meses, a criança começa a juntar fonemas como “dadada” ou “papapa”. Este exercício com os fonemas ajudarão a formar as primeiras palavras.
Ao balbuciar, a criança parece querer nos falar algo, chamar a nossa atenção, pois desde cedo notou no adulto o interesse pelos sons. Nós, adultos, sempre estamos atentos para algum ruído, os sons nos atraem, chama a nossa atenção quase que imediatamente. Ao perceber isto, o bebê tentará incansavelmente chamar a nossa atenção produzindo algum som. Seu balbuciar será sua ferramenta mais eficaz para alcançar seu objetivo inicial – prender a atenção do adulto.
Depois de incansáveis repetições silábicas, de inúmeros exercícios fonéticos e dos jogos de imitação, veremos um salto do “mundo da fonética” para o “mundo das primeiras palavras”, ou seja, o léxico. A criança dirá suas primeiras palavras. “Papai” e “mamãe” são as palavras mais esperadas. Haverá uma grande surpresa se a primeira palavra não for “papai”, nem “mamãe”, (Aimard: 1998).

A criança tentará imitar as palavras mais ouvidas e as que para ela tenham mais importância. Aos nove meses minha sobrinha aprendeu a falar “au-au”, para chamar o cachorro que ela tanto amava, acredito. A cadela da casa sempre fazia com que ela produzisse algum som, gritos ecoavam por toda a casa quando ele se aproximava dela. Catarina ou “au-au”, como preferia Eduarda, minha sobrinha, contribuiu consideravelmente para o desenvolvimento de Eduarda. Claro que chamar Catarina de “au-au” Eduarda precisou ouvir de algum adulto essa expressão. Como afirma Aimard, a criança constrói sua língua a partir das formas orais que escuta; nada lhe indica os limites das palavras, ela adquire pedaços de discursos. Futuramente formará suas primeiras frases.
A partir dos referenciais lingüísticos que nos ajudam a entender o surgimento e a evolução da linguagem no ser humano, percebemos que o bebê só começa a formar as “primeiras frases” durante o segundo ano de vida. Essas frases são construções simples, geralmente formadas por duas ou três palavras.
È interessante notar que essas frases, mesmo sendo formadas por apenas uma ou duas palavras, podem significar muita coisa. Por exemplo, se um bebê nessa faixa etária pronunciar a palavra “mã” ela pode estar se referindo a mãe dela, e “comentando” algo sobre sua mãe; ou pode estar querendo que sua mãe lhe pegue nos braços, e muitas outras situações possíveis. Isso quer dizer que o bebê raciocina alguma coisa dentro de uma determinada situação, mas as suas limitações lingüísticas (verbais) só permitem que ela emita uma única palavra.
A criança só irá construir enunciados mais complexos a partir do terceiro ano, quando ela desenvolverá a maioria dos fonemas, aumentando o vocabulário e a aquisição das formas gramaticais. Esse será um momento importante na linguagem. Como diz Airmad, “três anos é uma idade-chave: a criança diz ‘eu’, compreende praticamente toda a linguagem corrente. É a idade da pergunta.”
Com isso pode-se perceber que a construção das frases iniciais pelas crianças se dá em um período complexo e avançado da aquisição da linguagem; o que é correto supor que a linguagem, como um processo comunicativo, inicia antes mesmo desse período, pois nos dois anos de vida de um bebê, ele já apresenta situações que podemos identificar como comunicação, ou linguagem; mesmo que ele não tenha ainda uma língua complexa capaz de expressar tudo que ele pensa.
Uma das grandes questões acerca da aquisição da linguagem é se ela é realmente adquirida, ou se a criança já nasce com ela. Há questionamentos, também, em relação a quem seja o personagem principal na aquisição da linguagem. Será que a criança cria a língua por si mesma? Será que os pais são as verdadeiras fontes para a formação da língua de um bebê? Existem outras fontes influenciadoras no surgimento, na aquisição e desenvolvimento da linguagem de um ser humano?
Paule Airmad é bem enfática quando diz que “a criança não inventa a linguagem” (AIRMAD: 1998. Pg. 92). Mesmo reconhecendo que a criança já possui aptidões inatas para o desenvolvimento da linguagem, a criança não irá se desenvolver bem linguisticamente se ela não for exposta a situações com as quais ela interaja. É a partir da linguagem dirigida a ela que a criança vai extrair modelos e construir então sua língua. A esse processo de exposição a modelos lingüísticos Airmad chamou de “banho de linguagem”, o que é muito sugestivo.
As primeiras pessoas que são responsáveis por esse “banho de linguagem” na criança são os pais delas, já que são também os primeiros contatos e relacionamentos de qualquer criança. É sabido que as outras pessoas da família, os amigos, as crianças da creche e até a televisão também terão participação nesse processo.
Durante essa situação de interação as formas de comunicação e linguagem serão moduladas, acontecerá o registro de linguagem, isto é, todos nós falamos de uma forma diferente em cada situação; adaptamos o modo de falar de acordo com o momento. Com o nosso pai nós falamos de um jeito, com nosso irmão já falamos de outro, utilizamos uma fala para falar com um desconhecido, enquanto que com um amigo falamos de outra forma. É por isso que o adulto, quando está falando com um bebê, modifica sua voz e sua fala de forma que a criança se sinta bem e “compreenda” o que lhe está sendo dito. É um registro de linguagem que está sendo criado. Esse tipo de registro (adulto/criança) passou algum tempo sem receber a devida atenção, e foi até muito criticado. Com o passar do tempo perceberam que esse tipo de registro poderia ser fonte de estudo e ser muito relevante para a compreensão de como a aquisição da linguagem se dá na criança.
Esse registro, como todos os outros, possui suas características principais, dignas de nota e observação:
1. O adulto utiliza enunciados simples, são apenas poucas palavras, que se referem a algo concreto que está acontecendo naquele momento. Geralmente vêem acompanhadas de formas de comunicação não verbais, como gestos e movimentos que completam e melhoram a compreensão do enunciado;
2. O tom de voz geralmente é enfático, dando a impressão de brincadeira, parecendo a uma fala teatral;
3. Uma particularidade importante desse registro é que ele nunca é fixo. Ou seja, o adulto não utiliza o mesmo jeito de falar com um bebezinho, com uma criança de um ano, outra de dois, de três etc. O adulto espontaneamente vai adaptando o seu modo de falar de acordo com a idade da criança, utilizando para cada faixa etária uma linguagem que julga compreensível à criança.
4. Esse tipo de interação proporciona também o desenvolvimento do diálogo. A criança começa a aprender a conversar: ela “fala” com os seus pais; em seguida se cala e espera por uma resposta; depois pode formular uma resposta adaptada mediante a fala ouvida. Com isso ela estará desenvolvendo os papeis do diálogo, de interlocutores.
Essa interação entre adulto e bebê é de fundamental importância para a aquisição da linguagem. A língua é uma habilidade que a criança desenvolve naturalmente, isso não significa que os pais não devem intervir de forma alguma, deixando que com o tempo as coisas aconteçam. É interessante que cada pai ou mãe saiba a melhor forma de interagir com seu filho, ajudando nesse processo natural, o que poderá lhe ajudar a corrigir algumas falhas que possam surgir no percurso de aquisição e desenvolvimento da linguagem no bebê.
A partir dessas fundamentações teóricas, foi feita uma pesquisa com algumas crianças nesse período inicial de vida e da linguagem. O objetivo foi observar como o processo de aquisição da linguagem está ocorrendo nas crianças; para isso questionamentos sobre as falas iniciais e a interação comunicativa foram feitos aos responsáveis de tais crianças. Assim colhemos algumas amostras para exemplificar as teorias desenvolvidas pelos lingüistas. Para efeito de organização, um questionário padronizado foi confeccionado e consta anexo a esse artigo.
As crianças observadas estão numa faixa etária de 6 meses, 1 ano e 11 meses e 3 anos e 6 meses, respectivamente. Pelo que foi relatado pelas mães durante a entrevista (em anexo) percebemos que todas apresentam um nível de linguagem apropriado à fase que estão vivenciando, algumas apresentam um vocabulário muito correto para a idade.
Constatamos que as crianças começaram a falar por volta dos seis ou sete meses de idade, geralmente as palavras foram quase as mesmas para todas, “papa” (papai), “mama” (mamãe), entre outras. No caso de Ivina, o vocabulário mais extenso, como por exemplo: “au”, “au” (cachorro), “bubu” (chupeta), “cocó” (galinha), “ada” (água), talvez se deva ao fato de sua mãe ser psicopedagoga e por conhecer as etapas do desenvolvimento da fala, tenha estimulado a filha mais adequadamente.
Quanto às primeiras perguntas todas são unânimes: começaram a perguntar à medida que foram compreendendo o mundo, sentindo falta das pessoas (principalmente os pais) e despertando a curiosidade sobre as coisas e objetos. No caso de Yasmim, que ainda é um bebê de 6 meses, sua mãe diz: “ ela olha para mim como se estivesse perguntando alguma coisa”.
As dificuldades de pronúncia estão presentes no caso de Ivina e Clarissa, ambas apresentaram dificuldades com algumas consoantes, como por exemplo, “f”, “r”, “z” e também com alguns encontros consonantais: “br”,”bl”, “cr”.
Pelo que foi dito pelas mães, concluímos que as crianças foram e continuam sendo estimuladas através de conversas, brincadeiras e interagindo com adultos e crianças da mesma idade. As formas mais utilizadas como estímulos são: diálogos, repetição de palavras (os pais e parentes próximos falam uma palavra várias vezes até a criança aprender a repetir), músicas, histórias contadas pelos adultos e brincadeiras com outras crianças.
Todas essas crianças pesquisadas estão numa faixa etária que lhes expõe ao que foi chamado por Airmad de “banho de linguagem”, onde os principais “banhadores”, ou influenciadores são os próprios pais delas. Por isso elas vão desenvolvendo a sua língua baseada nos modelos lingüísticos que ouve constantemente. É de fundamental importância que os pais tomem conhecimento disso e percebem o poder que têm para formação lingüística de seus filhos.



BIBLIOGRAFIA
AIRMAD, Paule. O surgimento da linguagem na criança. Tradução de Cláudia Schiling. Porto Alegre: Artmed, 1998.


Maria Verônica Paula FerreiraFrancisco Alcides Martins Junior e Jessé de Sousa Mourão são alunas do Curso de Letras da UVA, em Sobral. Escreveram este artigo como atividade acadêmica da disciplina AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM, ministrada pelo professor Vicente Martins.

ENTENDENDO O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM DA CRIANÇA










Francisco Edivaldo Eufrásio da Silva*
Heliomar de Oliveira Clarindo*
Priscila Jorge de Brito*
[1]

RESUMO


Com esta pesquisa pôde-se comprovar o quanto o processo de aquisição da linguagem é importante. Existiu a preocupação em explorar todas as características presentes nas idades iniciais da criança. A aquisição da linguagem por ser todas as habilidades relacionadas à fala nos proporcionou investigar tudo de mais importante nos primeiros anos de vida da criança. Houve a preocupação em explicar aos leitores tudo o que ocorre na aquisição da linguagem da criança como: o situamento do inicio da linguagem, o balbucio, as primeiras palavras, a primeiras frases, a linguagem adquirida e a linguagem como conseqüência normal do processo de formação da fala da criança. Foram apresentadas também aqui, duas pesquisas com crianças de idades diferentes, com a finalidade de observar as primeiras palavras, as primeiras frases, as primeiras perguntas, as palavras que geraram dificuldades na hora da pronúncia e quais as estratégias mais usadas pelos pais para que as crianças aprendessem novas palavras. Vale ressaltar que o objetivo principal em todo este estudo foi entender todo o processo de aquisição da linguagem da criança, e repassar de maneira clara e objetiva ao leitor. Conclui-se, então que a aquisição da linguagem da criança torna-se algo diferenciado porque parte do pressuposto do inatismo. A linguagem por ser algo que já é da natureza do homem acaba gerando muita polêmica, porém não deixa de ser acreditado que a linguagem é aquilo que rege todo o desencadear do homem no convívio social e requer um pouco de algo que a reforce.

PALAVRAS-CHAVE
Linguagem, Balbucio, Primeiras Palavras, Adquirimento, Inatismo, Criança.

Segundo Paulo Aimard, “o adulto não tenta ensinar nada a criança; eles são felizes juntos. A comunicação passa por olhares, sorrisos, posturas e voz.” (Aimard, 1998, p.56). A partir desta idéia, pode-se ver que o inicio da linguagem inicia-se com estas apresentações. A criança se depara com os olhares que os pais a fazem, com isto despertando já um interesse de comunicação, depois vem um sorriso, mais uma forma de entrelaçamento entre pais e filhos. O sorriso por ser algo constante nas crianças faz com que as mesmas dialoguem através dos risos e das gargalhadas. A postura dos pais da criança também traz mais uma forma constante de comunicação, pois as crianças tentam ao máximo imitar todos os movimentos dos pais, como os sons emitidos, o modo de mexer-se, de comer, de andar, enfim, a postura dos pais trará benefícios bons para a representação da comunicação das crianças. A voz torna-se um dos papéis importantíssimos para o processo de formação da fala da criança, pois é através do meio em que ela vive que ela aprenderá a falar, a emitir sons, por isso diz-se que a voz dos pais é um fator logicamente necessário para aquisição da fala da criança, pois a criança aprende muito fácil a imitar tudo o que ver e escuta.
A linguagem inicial da criança dá-se a partir dos movimentos e da motricidade. É comum vermos crianças com o desenvolvimento da fala muito lento e já outras crianças apresentam um nível muito elevado da fala. Com isto, muitas pessoas perguntam-se, por que este atraso da fala em algumas crianças? E por que outras apresentam a fala como algo já muito elevado? A resposta que se obtém, é que cada criança progride e situa-se a fala através de seu próprio ritmo, o progresso da aquisição da fala da criança varia muito e por isso a razão deste comportamento. Crianças demoram manifestar sua fala e outras falam pelos “cotovelos”. Mas o importante é que se uma criança embora não sendo criada dentro do convívio social, e sim criada totalmente excluída da fala humana, pode-se ter certeza que esta criança em algum momento de sua vida irá emitir algum som, falar alguma palavra cabe até então neste contexto a questão do “inato” versus “adquirido”. Acredita-se, portanto que a fala é inerente ao homem, pois embora ele seja criado em uma privação, som em algum instante vai proferir.
No século VII a. C o rei Psamético do Egito ordenou que duas crianças fossem confinadas desde o nascimento até a idade de dois anos, sem convívio com outros seres humanos, a fim de observar as manifestações “lingüísticas” produzidas em contexto de privação interativa. Sua hipótese era que se uma criança fosse criada sem exposição à fala humana, a primeira palavra que emitisse espontaneamente pertenceria à língua mais antiga do mundo. (SCARPA, 2001, p.203).

Um fato muito importante em relação à linguagem inicial da criança, é que nunca se deve esquecer que a linguagem jamais pode ser isolada do resto, ou seja, a linguagem é parte integrante de todos os processos de aquisição, processos de adquirimentos de ações, movimentos, sentimentos, entre outros da criança. Por isso não se pode de maneira nenhuma esquecer que todos os processos da fala da criança serão dados a partir dos pais e das pessoas que convivem com a mesma, o fato de que a criança tem em sua natureza a forma de imitação, nos possibilita a responsabilidade de nos comportarmos bem, pois as crianças irão imitar essas pessoas em todos seus movimentos e sons. Isto se torna importante, pois com isso as pessoas irão ter a preocupação de repensarem seus atos, o importante também é que com isto, todos irão saber o quanto são intermediários para o processo de aquisição da linguagem da criança. Então a fase de imitação da linguagem da criança compreende todos os modos pelos quais as pessoas se comportam, esta também tem seus problemas, pois é uma fase que atrai muita das vezes as dúvidas dos pais em relação ao início da linguagem, até porque não é muito fácil de entender todo este processo, cabe então um pouco de estudo à respeito. Mas o certo é que os fatores mais importantes para a aquisição da fala da criança estão bem próximos da mesma, que são a responsabilidade dos pais, pois é através deles que a criança começa seu método de imitação, imitando em principal, gestos e sons como já foi neste estudo relatado, e o outro fator importante para a aquisição da fala da criança é a questão do inatismo, pois a criança já nasce com o dom da fala, o dom da linguagem. No caso de crianças surdas-mudas, o modo de se comunicar através de gestos não deixa de ser uma forma de linguagem, pois o dom da linguagem, já que é inato, nasce para todos. Vale ressaltar que os modos de comunicação da criança se adéquam aos poucos ao meio por serem complexos ao entendimento social.
Segundo Paule Aimard, “A partir dos primeiros meses e durante o seu primeiro ano, a criança adquire capacidades interativas e balbucia”. (Aimard, 2001, p.59). Com isto pode-se perceber que os balbucios da criança já começam bem cedo, e estes balbucios são todos os sons produzidos pelas crianças. Um dos fatores mais importantes em relação ao balbucio é a imitação.
Como aqui já foi citado, a criança quando está nesta fase tenta ao máximo observar todos os movimentos dos lábios dos adultos, mas apesar disto elas não conseguem balbuciar, pois isto requer um pouco de tempo. Às vezes a criança emite por acaso alguns sons vocais, um dos motivos para isto acontecer é quando os órgãos da fonação entram incondicionalmente em funcionamento. A questão do balbuciar da criança possui sete processos de evolução. No início a criança começa a balbuciar sons diversos, ruídos sem muita lógica, como se fossem balbucios “selvagens” como é colocado no texto de Aimard. O fato é que estes balbucios evoluem e vão se adaptando aos modelos fonéticos e à língua materna. Com isto, então, se observa que a criança sente a necessidade de ouvir e depois reproduzir o que ouviu, a partir disso, depois de algum tempo ela vai aprimorando suas articulações dos balbucios e vai repetindo em vezes os sons, com isto a criança tem o objetivo de exercitar tais sons. Esta questão de repetição dos fonemas é chamada de “forma acústica. - forma motora”, que é responsável pela memorização. Porém, o fato da repetição dos fonemas como forma de treinamento não é comum em todas as crianças, somente naquelas que são mais esforçadas.
É importante ressaltar que as crianças ao imitarem os adultos, elas tendem a uma imitação materna, ou seja, todos os sons repetidos por elas são pertencentes a uma língua de origem. E no caso, é a partir desta idade da criança que ela vai fazer a diferenciação pronunciativa dos sons de outras línguas.
Umas das explicações que também cabe no contexto do balbucio é o fato de as crianças terem mães que conversam demais. Isso faz com que a repetição constante dos vocábulos emitidos pelas crianças torne-se algo constante, geralmente isso acontece por volta do terceiro ao quarto mês da criança. Podemos pensar que a mãe que conversa frequentemente com o bebê, que lhe dirige muitos comentários e brincadeiras verbais, leva a criança a responder- lhe por meio de vocalizações. (Aimard, 2001,p.61).

Quando a criança está com 10 meses de idade ela começa a gostar e usar constantemente a pronúncia dos vocábulos fonéticos como forma de treinamento. Nesta idade ela também já tem a capacidade de entender alguns vocábulos como, por exemplo: “não, não”.
A criança no início dos dois anos de idade continua com a imitação de vocábulos. Com um nível de imitação um pouco mais avançado, neste período a criança aumenta a sua capacidade de compreensão.
As primeiras palavras pronunciadas pelas crianças são “papai e mamãe”, pelo fato de elas terem a capacidade de aprender com mais facilidade as consoantes “p” e “m” e a vogal “a”. A criança às vezes chama a “mamãe de papai”. Segundo o autor Aimard isto acontece devido ao lado mais engraçado e implicante que a criança possui. A criança por estar em convívio constante com os pais,são pressionadas a emitirem de antemão as primeiras palavras sendo elas “papai e mamãe”. Mas não se pode esperar já com certeza que as crianças emitam primeiramente estas duas palavras, pois a partir do convívio da criança é que irá perceber quais palavras ela emitirá primeiro. No caso se os pais repetirem, constantemente para que elas falem primeiro estas duas palavras, pode-se esperar isto, até porque a linguagem necessita um pouco de estímulo condicionador.
“Papai e mamãe” são palavras esperadas, solicitadas, nas quais se investe tanto, que desempenham um papel muito especial nas produções da criança. Haverá uma grande surpresa se a primeira palavra não for “papai” nem “mamãe”. (Aimard, 2001,p.63)

Torna-se muito importante dentro do processo de aquisição da linguagem da criança, o fato de os pais corrigirem os filhos logo quando pronunciam palavras erradas. As crianças por não assimilarem de imediato os sons que ouvem, acabam tendo um pouco de dificuldade na pronúncia, cabe então aos pais fazer a correção e repetirem várias vezes o modo correto de pronunciar as palavras.
O adulto reforça e torna precisas essas primeiras palavras. Sua pronúncia é tão aproximada que com freqüência é difícil entender o que a criança está dizendo. É preciso compreender, depois traduzir ou repetir na forma correta aquilo que a criança pronunciou à sua maneira. (Aimard, 2001, p.65)
Após a criança passar por a fase das primeiras palavras pronunciadas, isto no início dos dois anos de idade, ela passa para uma fase em que começa a organizar as palavras, os conjuntos de palavras, construindo assim suas primeiras frases. Porém estas frases são apenas palavras convencionais como, por exemplo, ”está frio”, ”acabou a coisa”, entre outros. Vale ressaltar que a pronúncia das frases da criança neste período é um pouco defeituosa. A criança também por basear-se em todos os sons que escuta, associa estes sons e os transforma em sua fala original, a mesma por não ter limites na fala, pronuncia tudo que escuta aleatoriamente.
Skinner “propõe enquadrar a linguagem (ou comportamento verbal)na sucessão e contingência de mecanismos de estímulo- resposta - reforço,que explicam, que explicam o condicionamento”.(SCARPA,2001,p.206). Segundo esta teoria a linguagem torna-se adquirida porque necessita de um estímulo condicionador. Realmente pode-se comprovar que a linguagem da criança, assim como qualquer outro tipo de aquisição segue um padrão para que tudo seja realizado através de algum estímulo. Todas as atividades realizadas pela criança, assim como escrever,andar de bicicleta, etc. seriam exemplos propícios de como a linguagem da criança torna-se dependente de ensinamento dos pais e de outras pessoas que têm acesso a estas crianças. O fator “adquirir” é muito polêmico, por ser a representação de todo o processo de aquisição da linguagem, esta tese é defendida por muitos estudiosos, porém é discordada por outros. Realmente o processo de aquisição da linguagem da criança está um pouco voltado para o “adquirimento”, a criança necessita de certa forma de algum ensinamento, principalmente quando elas estão no período de pronunciação das primeiras palavras. Uma coisa talvez seja certa durante esta fase da criança, o fato de ela necessitar daquilo que é mais importante para ela que é a linguagem, faz com que a mesma tenha todo o ensinamento e todo engajamento da parte de seus pais, pois a linguagem embora sendo algo que para muitos já nasce com o homem, carece um pouco de “processamento acompanhado”, que é a questão da linguagem adquirida.
Chomsky “adota uma postura inatista na consideração do processo por meio do qual o ser humano adquire a linguagem. A linguagem, específica da espécie, dotação genética e não um conjunto de comportamentos verbais, seria adquirida como resultado do desencadear de um dispositivo inato, inscrito na mente”.(SCARPA,2001,p.204 ).

A partir desta idéia pode-se ver o quanto a linguagem do ser humano é aceita por ser algo inato,ou seja de sua própria natureza. Esta tese geralmente é defendida e aceita por muitos, talvez pelo fato de algumas crianças terem mais facilidade de falar suas primeiras palavras .Observa-se então que a criança nasce com o dom da linguagem. Por isso é que se pode dizer que a criança embora sendo isolada do convívio social, em algum momento ela vai emitir alguma palavra, sem nenhum tipo específico de estímulo condicionador. Ela vai emitir apenas por obedecer ao que sua natureza está pedindo. O fato é que a aquisição da linguagem por ser um dispositivo inato requer o estudo e o aprofundamento, pois é necessário saber cada passo desta fase do homem. O inato talvez seja um grande presente para todos aqueles acredita que o modo de comunicação do homem seja algo de muita significância dentro do contexto social. Pessoas que acreditam que a criança aprende tudo a partir do dom que receberam o dom que transforma e os faz com que tornem homens de bem e homens de sucesso, tais são responsáveis apenas para acompanhar toda a fala da criança e não para ensinar estas a falarem. A linguagem por ser algo que já nasce com o homem faz com que o mesmo torne-se tudo aquilo que sempre sonhou. O dom do inatismo salva a todos. Falar significa ter tudo nas mãos, a linguagem por si só não é nada, porém junto ao homem é tudo.
Sempre se observava a ansiedade das pessoas e principalmente a dos pais, em relação à primeira palavra da criança, têm-se a cultura que a se primeira palavra que ela fala for de uma “pessoa”, esta é a mais especial para ela, porém, nada comprova isso, a criança terá mais tendência em falar palavras com sílabas de fácil pronúncia, presente em seu cotidiano.
Na pesquisa realizada sobre o processo se aquisição da fala da criança para a elaboração deste trabalho foram observadas duas crianças, sendo que uma delas é o filho de um dos autores do presente artigo. Apresenta-se a seguir os relatos de Edivaldo Eufrásio, sobre o processo de aquisição da linguagem de seu filho Cauê:
“Em minha pesquisa, observei meu próprio filho, hoje com 25 meses. Ele começou a balbuciar desde o quinto mês. Com a orientação do pediatra, sempre ficávamos atentos aos seus sentidos, se falássemos, observávamos se ele olhava, ou seguia o som de nossa boca.
Ao 9º mês a primeira palavra, “dadai”, para dizer (papai). Tínhamos até então a certeza que era papai, pois ele sempre tentava repetir em minha presença, já que o “d” faz parte das primeiras consoantes dita pelas crianças e o “i” embora não sendo considerada a primeira vogal dita na aquisição, é uma vogal de fácil pronúncia. Porém com a leitura de Paule Aimard, pude perceber em estudos já feitos pelo autor, que não temos a certeza na destinação da criança entre as consoantes [p], [b], [d], já que são misturadas no primeiro ano com o balbucio da criança. Então surgiu-me a dúvida se Cauê teria dito “papai”,” babai” ou “dadai”.
Depois de registrado a primeira palavra, continuava mesmo com um pouco de ausência, já que eu e sua mãe não estávamos mais juntos, a observar o desenvolvimento de sua linguagem. Vieram até antes dos 12 meses, ago: (água), li: (ali), dê: (cadê), esta última vinha acompanhada com um gesto de mão, assim como o nan (não).
Cauê teve um adiantamento em sua aquisição, já que na média as primeiras palavras, são ditas a partir do primeiro ano, porém nessa idade ele já tentava juntar duas palavras.
Este adiantamento talvez se deva ao fato de sempre mostrar-lhe objetos, na hora do banho, pergunto a ele todas as partes do corpo, incentivo a dizer sempre o nome dos brinquedos, das pessoas, e de coisas que façam parte de seu cotidiano. Sempre demos muita importância ao que Paule Aimard chama de capacidade interativas “Pré-verbais”, ou seja, o que passa pelo corpo, pelas atitudes, pela postura, olhares, gestos etc. e sempre tivemos a preocupação de dá a ele uma oportunidade de troca (feedback).
Aos 13 meses já começava o interesse de juntar duas palavras, e estas foram: Dê meu (me dê, que é meu!) compreendíamos, já que balbuciava, quando alguém pegava seus brinquedos. ”Óia nenen” (olha o neném!), quando via alguma criança,embora esta não fosse mais neném, ocorrendo aqui uma generalização da palavra.”Siá dadai”(passear papai), com 14 meses ao dizer essa frase procurava logo o sapato, pois assimilava que quando fosse passear, calçaria o sapato,”tia dadai”(tchau papai), toda vez que me via sair para o trabalho.
Seguido das “primeiras frases”, surgiram algumas perguntas simples, compreendidas mais por nós, mais presentes em sua vida. “Dê gagau?” (Cadê o mingau?), ”dê dadai?” (Cadê o papai?).
Até então era visível o desenvolvimento em sua linguagem, porém, no décimo quinto mês, parecia ter ele adquirido um “repertório”, as palavras adquiridas se tornaram cada vez mais repetidas, embora sempre tentássemos inserir nesse processo novas palavras, parecia ter limitado seu linguajar, mesmo explorando cada vez mais o que tinha adquirido.
Por incrível que pareça, Cauê, teve uma grande dificuldade em pronunciar “mamãe”, ”madrinha”, ”padrinho”. Sua mãe chegava até se chatear um pouco, a palavra se tornava cada vez mais esperada. Ele pronunciava a letra “m” em “mais” comprovando o que eu já havia percebido, que ele tinha facilidade em palavras curtas, que tivesse a vogal “i”,até mais que “a”.
Essas palavras que considerei como difícil, ele disse já com ano, e em relação à sua primeira palavra “dadai”, ”papai”, ele já dominava o papai, mas o interessante, é que eu ao falar que o certo era papai, ele ria muito e dizia “dadai”, cada vez mais alto, percebi que isso pode se enquadrar na suposição de Paule Aimard, que a criança pode estar implicando, o que seria importantíssimo e excepcional.
O segundo ano, já estava bem avançado em relação à linguagem, continuamos com as estratégias que já citei anteriormente, cobrando o nome de objetos, pessoas, gravuras e etc, e tem funcionado bastante. Compreendemos que não é só a fala que pode ser considerada linguagem, todos os seus gestos, curiosidades, dificuldade e habilidades, procuro inserir num novo contexto que facilite sua rotina.
Concordo com o autor Aimard, de o terceiro ano ser a “idade de ouro da linguagem infantil”, pois ainda não percebi em meu filho, algum contato com os encontros consonantais “(/fl/,fr/,pr/tr/etc.) apenas facilidade com as consoantes [p] e [b] e as nasais [m] e [n] e todas as vogais, mesmo levando em consideração que cada criança possui seu ritmo próprio, suas particularidades.
Desde os 20 meses já sabia distinguir os parentes, algumas vezes falando, e outras apontando. Hoje com 25 meses tem tendência em acompanhar músicas lentas, repetindo sempre a ultima palavra das frases, eu, todavia estimulo essa estratégia, acho muito importante essa repetição, além de já reconhecer nomes de animais, roupas, sapatos e lugares”.
Outra pesquisa foi realizada em outra cidade, para sermos mais precisos em Graça, a criança pesquisada chama-se Ana Luíse, tem dois anos e dez meses. Ao perguntar para sua mãe (Márcia), quais as primeiras palavras ditas pela filha, ela respondeu que foram “mamãe e papai”, o que não é nenhuma surpresa. Logo após vieram as primeiras frases: Pedia para tomar água (“me dá abo”) e comida (“nham nham”). Quando a indagamos sobre as perguntas que Ana Luíse mais fazia, Márcia disse-nos que ela perguntava muito pelos pais, pois os mesmos trabalham e passam o dia fora. Em seguida à perguntamos quais as palavras que a criança mais tinha dificuldade em pronunciar:”As palavras que minha filha sentiu dificuldade foram “piçoço”(pescoço), ”fiverante” (refrigerante)” telisão”(televisão); não pronuncia o “r” em algumas palavras “pofessora”(professora), ”cholei” (chorei), “tiste”(triste)”, disse Márcia. Por último perguntamos para a mãe de Ana Luíse como ela estimula e ajuda na aprendizagem de novas palavras, ela respondeu que sempre estimulou e incentivou a fala da filha através de conversas, ensinando novas coisas como as cores, por exemplo, e frequentemente cantava músicas o que ajudou bastante na aprendizagem de novas palavras.
A criança observada é muito inteligente, fala e compreende as coisas muito bem. Ela é bastante desenvolvida, pois com 34 meses, é notável a diferença entre Ana Luíse e outra criança com a mesma idade. A menina atende ao telefone, sabe conversar, dar o recado que alguém deixou. O que é bem evidente é o quanto os pais (Antônio Carlos e Márcia), influenciam para que a filha tenha a fala bem desenvolvida. Apesar de ambos trabalharem o dia inteiro, as horas vagas, os fins de semana são dedicados à filha. São carinhosos, conversam muito com ela, expressando todo o seu afeto e ensinando-a novas coisas. Nota-se aí quão importante é a presença dos pais no desenvolvimento da criança, mesmo que não possam estar sempre juntos é essencial que busquem uma maneira de dar atenção, de dialogar, reservar seu tempo vago para acompanhar o crescimento de sua filha.
Conclui-se, portanto que a aquisição da linguagem da criança é um fator inato e também adquirido e muito importante para o processo da fala da mesma. A linguagem rege todo o meio em que se vive, por ser algo essencial para a vida globalizada.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


o AIMARD, Paule. O surgimento da criança na criança. Porto Alegre: Artmed 1998.
o BALIEIRO JR, Ari Pedro. Pisicolinguística. In MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina. (orgs). Introdução à Linguística: domínios e fronteiras, v.02. São Paulo: Cortez 2001.
o COLOMER, Teresa, CAMPS, Anna. Ensinar a ler, ensinar a compreender. Tradução da Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2002.
o SCAPA, Ester Mirian. Aqisição da Linguagem. In MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina. (orgs). Introdução à Linguística: domínios e fronteiras, v.02. São Paulo: Cortez 2001.
o SHAYWITZ, Sally. Entendendo a Dislexia: um novo e copletoprograma para todos os níveis de leitura. Tradução de Vinícius Figueira. Porto alegre: Artmed, 2006.



[1] *Estudantes do 3º Período de Letras Habilitação em Língua Portuguesa da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Sobral – CE. 2009. São alunos do professor Vicente Martins na disciplina Aquisição da Linguagem.