sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

cada criança possui um ritmo de aprender novas palavras, de acordo com os seus limites e seu ambiente


Artêmia Pereira da Silva
Nadielly Bento Barbosa de Brito












INTRODUÇÃO


A aquisição da linguagem na criança é um fato que traz consigo muitas questões com respostas relativas e ao mesmo tempo polêmicas. Perguntas do tipo: Onde devemos situar o inicio da linguagem? Quando as crianças dizem as primeiras palavras? É motivo de muitos debates e estudos aprofundados sobre o tema.Cada um possui uma maneira se enxergar as coisas e com certeza todos têm suas respostas para indagações desse tipo, mas é difícil estabelecer regras, pois cada criança segue um determinado ritmo.Não é de se admirar que alguns pais se preocupem quando seus filhos não progridem acompanhando o ritmo de outras crianças, essa preocupação é normal, mas também, os pais ou os adultos que cercam essas crianças devem estar atentos para o fato da individualidade de cada um, assim, o progresso da criança deve ser acompanhado pelos pais os quais devem levar em consideração os limites de cada criança.

PARTE 1

A formação da linguagem na criança é um fato que traz muitos estudos, a maioria do que se descobre é um pouco relativo, pois cada um tem sua resposta e isso se da pelo fato de que quando tratamos de assuntos que envolvem o progresso das crianças, não podemos generalizar já que cada um segue um determinado ritmo que é regido pelos seus limites e acompanhados pelo contexto onde a criança está inserida.O inicio da linguagem não se da somente por formas verbais, isto é, quando a criança consegue emitir enunciados, mas também quando estabelece comunicação utilizando elementos pré- verbais como: olhares, sorrisos, gestos, voz e etc.Essas interações adulto- criança que notamos no exemplo de Dimitre com sua mãe (anexo 1), são interações cujos componentes agem com intuito de aproximação onde “o adulto não tenta ensinar nada à criança; eles são felizes juntos” (AIMARD: 1998,p.56). A partir dessas interações o bebê progride e consegue participar mais ativamente das trocas, o enriquecimento do vocabulário é ampliado, emite sinais de pedido e etc. Assim, nesse contexto a criança vai progredindo e se aproximando em estabelecer comunicação.“... A partir dos primeiros meses e durante seu primeiro ano a criança adquire capacidades interativas e balbucia.” (AIMARD: 1998 p.59).
Juntamente com o que chamamos de pré- linguagem a criança produz gritos, que são levados em conta como um sinal de desconforto ou de chamado, mas quando a criança progride e utiliza sua voz de maneira diferente esses gritos se tornam menos freqüente. Com essa progressão a criança emite pequenas produções vocais que são emitidas por acaso, com o tempo essas produções serão modulados pela imitação e isso pode ser notado quando um bebê de meses nos olha e nós conversamos com ele, o mesmo observa a nossa boca e movimente os lábios com intuito de nos imitar e com esforço produzem os primeiros sons do balbucio que são mais ou menos os mesmos em diferentes línguas.
De inicio as crianças produzem o [a] inaugurando as vogais, que logo são seguidas pelas demais; as consoantes anteriores são iniciadas com [p], [b] e são seguidas pelas nasais [m] e [n]. As formas são imprecisas no começo, mas depois se assemelham aos fonemas da língua.Quando a criança começa a balbuciar ela produz qualquer tipo de som e todos os ruídos possíveis como se fosse um “balbucio selvagem”, mas com o passar do tempo há uma evolução e esse balbucio se adapta aos modelos fonéticos ouvidos, assim ela se limita ao sistema fonético da língua materna, no caso o português.
A criança, a partir dos cinco ou seis meses, gosta de repetir sons e utiliza a auto-imitacão (espécie de esquema memorizado do fonema) ou a heteroimitação, na qual o “bebê ouve constantemente os adultos que conversam ao redor dele, essas produções contem apenas o repertório fonético da língua e assumem o papel de modelo” (AIMARD: 1998 p.60), mas há mais do que isso no balbucio... “... pois o bebê sente prazer em brincar com os sons, com a ajuda da voz. Estes são os primeiros hábitos de jogo, quando o jogo é exercício, quando ele é habilidade também é um jogo alegre. Existe um verdadeiro jubilo no balbucio, quando vemos um bebê dessa idade espernear, agitar braços e pernas. O balbucio adquire uma importância cada vez maior no esboço do diálogo. Pequenas conversas estão presentes em momentos de intimidade.” (AIMARD: 1998 p.61).
Por volta do segundo ano tudo continua progredindo, mas é nesse ano que dois acontecimentos ganham lugar: as primeiras palavras e as “primeiras frases”. Notamos que na maioria das crianças, as primeiras palavras são identificadas como “papai” e “mamãe” e isso se dá pelo fato de o [a] ser uma das primeiras vogais a serem ditas, e o [p] e o [m] ser uma das primeiras consoantes.Segundo Aimard, o bebê às vezes pode chamar o pai de “mamãe” ou o contrário, e assim não sabemos se ele se engana ou se está brincando ou implicando.Embora a maior parte dos bebês emita “papai” e “mamãe” como as primeiras palavras, não podemos prever qual será ela, pois as vezes podemos nos surpreender. É o caso do exemplo citado por Aimard (anexo 2) no qual retrata que a primeira palavra do filho A. Grégori (1947) foi “trem” e Juliette que se referia a “ denominação do cachorro da casa”. Assim, não sabemos qual será a primeira palavra só podemos concluir que ela será simples, concreta e que será do coditiano da criança. A forma dessa palavra é simples e pode ser que os adultos nem as percebam por isso é preciso bastante atenção dos pais quanto à linguagem das crianças.Conforme a criança vai progredindo o seu vocabulário ultrapassa as palavras “papai” e “mamãe”, e por volta do terceiro ano elas já emitem palavras que imitam vozes de animais, onomatopéias, nomes de pessoas, de animais, de roupas, de alimentos, de bebidas, de roupas, palavras da vida social e outras. As primeiras palavras são importantes, pois permite à criança falar de coisas importantes em sua vida e dentro desse contexto o adulto também tem sua tarefa que é em primeiro lugar oferecer modelos para as crianças construírem sua própria linguagem, eles também devem reforçar e tornar precisas as primeiras palavras é o que comumente chamamos de feedback corretivo.Logo após essas pequenas palavras a criança agora se encaminha para as primeiras combinações de palavras, as primeiras “frases”.Ainda no segundo ano de vida a criança produz pequenos enunciados ou amálgamas, nos quais notamos esboços de primeiras frases. Na maioria das vezes esses enunciados são constituídos por uma única palavra, mais querem dizer muito mais. Assim, podemos dizer que a criança adquire pedaços de discurso, por exemplo: não tem mais, o gatinho, está quente, no chão etc. “Essas frases, gramaticalmente reduzidas a algo vago e pouco estruturado, são expressivas e funcionais nas trocas verbais da criança com as pessoas que a rodeiam.” (AIMARD: 1998,p.66). Nesse contexto a criança fala por prazer tomando a iniciativa de comunicação ou para expressar sentimentos. No terceiro ano, nos enunciados que essas crianças emitem ainda faltam muitas palavras e algumas não são apropriadas, mas mesmo assim conseguimos perceber que elas respeitam certa regra. Além dessas características, notamos também a falta de artigos e a ausência de marcas gramaticais para a distinção entre feminino, masculino, plural ou singular.Mesmo com essa “falta” na construção desses enunciados, tudo o que a criança diz é dotado de significado e diz aquilo que a criança quer comunicar, mas essa comunicação só será possível se o que ela disser for recebido por um adulto que a conhece, isto é, por aquele que a acompanha e que é capaz de notar seu desenvolvimento. A aquisição da linguagem, com podemos concluir com o que já foi dito, é adquirida. Mesmo sabendo que as crianças são dotadas de aptidões inatas, elas só conseguem adquirir linguagem graças aos adultos que a rodeiam. Isso se da pelo fato de elas retirarem da linguagem que escutam modelos dos quais constroem sua própria linguagem, sendo os responsáveis por este fato os adultos (pais, mães, familiares), creches e até a televisão, por esse motivo e que devemos nos atentar quanto à linguagem que dirigimos às crianças. Essa linguagem não deve ser igual a que usamos com qualquer pessoa ou situação, ela deve ter por características, enunciados simples, deve relatar algo que esteja ocorrendo no momento, algo concreto e etc. Essa linguagem também não deve ser fixa, pois se assim fosse estaríamos bloqueando o progresso da criança por isso os adultos devem acompanhar o ritmo das crianças. Nessas interações das crianças com os adultos, a criança é capaz de construir sua própria linguagem e, além disso, é capaz de se situar nos hábitos da linguagem onde ela vai aprender a se comunicar. Assim, notamos quão preciosa é a presença dos pais nesse momento, pois os mesmos são responsáveis pela linguagem do bebê juntamente com seu progresso. As crianças não interagem somente com os adultos, mas também com outras crianças onde elas aprendem entre si. Conforme a criança vai se desenvolvendo maturacionalmente mais elas se tornam capazes de adquirir com mais facilidade a língua e para isso acontecer elas se utilizam de estratégias bastante eficientes. A primeira que podemos relatar aqui é a estratégia de escuta onde a criança presta bastante atenção à linguagem que lhe é dirigida ou que ela ouve ao seu redor. Ela observa bastante o que as pessoas falam e o que ela ouve. A segunda estratégia é a de compreensão, no qual a criança utiliza elementos como entonação e termos mais marcados que outros que facilitam a compreensão. A terceira estratégia é a da imitação, onde a criança procura imitar atitudes dos adultos tais como: ações, rituais, diálogo, proibições e outros; e a quarta estratégia é a de produção onde a criança começa a pronunciar palavras e a construir frases e quando sente incorreções, ela se corrige sozinha ou o adulto a auxilia fornecendo a palavra correta depois dela. Assim que a criança vai progredindo sua linguagem a acompanha tornando sua comunicação cada vez mais rica, o que também facilita a interação dessas com os adultos. O desenvolvimento da criança depende também do seu ritmo, dos pais que exercem papel fundamental nesse processo, e do ambiente. Portanto, tudo o que foi dito pode variar de criança para criança.






PARTE II
Observou-se uma criança, chamada Ana Clara (restante dos dados em anexo 3) e foram coletadas algumas informações com a mãe da criança sobre a aquisição da linguagem da mesma.
Segundo a mãe da criança, suas primeiras palavras foram as quais a mesma tem mais contato como, Dedé (Dedé), tau (tchau) e mamã ( mamãe). Podemos observar que há uma presença de palavras que contêm vogais não-arredondadas, que é normal para idade da criança, por ser mais fácil pronunciá-las.
A criança produz frases com no máximo duas palavras: Me dá ( Me dá) e Qué não ( Quero não). Ela produz ainda expressões como, aba que, possui apenas uma palavra, para dizer Quero água, o que é perfeitamente normal para idade da criança ( 16 meses), pois são bastantes funcionais pois, conseguem dizer alguma coisa aos adultos que a rodeia. Ela não consegue formular perguntas com mais de uma palavra. A única expressa interrogativa que a mesma expressa é o termo é?, que ela utiliza para confirmar alguma coisa. Por exemplo, quando é mostrado algum objeto para a criança, ela aponta com o dedo e diz: é? Esse tipo de discurso, onde é empregada somente uma palavra para dizer muito mais, é bastante comum a crianças com essa idade.Observou-se que a criança possui dificuldade para falar a palavra papai. Talvez pelo fato do pai trabalhar longe e ter pouco contato com a criança, já que foi notado que as palavras ditas pela mesma são palavras que ela tem contato diariamente.
A mãe não utiliza nenhuma estratégia para que a criança aprenda novas palavras. Segundo a mesma essa aprendizagem aconteceu e acontece de maneira natural, de acordo com o contato da criança com as palavras referidas. Porém, é importante salientar que, a criança observada nasceu de uma gestação de trigêmeos e, que devido a isso a mãe conta com a ajuda dos vizinhos para cuidar dos mesmos. Foi notado também que há, por parte dos vizinhos, preferências por determinadas crianças. Ou seja, cada criança acaba tendo mais contato com um determinado vizinho do que as outras e, cada vizinho tem um vocabulário diferenciado e uma estratégia de ensinar às crianças, novas palavras. Talvez isso explique porque o desenvolvimento da aquisição da linguagem nas três crianças não segue o mesmo ritmo. Cada uma delas possui um ritmo diferente, no que diz respeito à aprendizagem de novas palavras. A irmã (Ana Vitória) da criança observada, embora diga várias outras palavras, não consegue dizer a palavra mamãe. Já o irmão (Aminadabes) só consegue dizer a palavra papá (papai), sendo o único dos três irmãos a falar a mesma e, produz vocalizações como a e é, sendo essas vocalizações as mais fáceis de serem produzidas por serem vogais não-arredondadas. Foi observado que o menino possui a língua presa, o que talvez explique sua maior dificuldade em produzir palavras.


CONCLUSÃO
A partir do trabalho apresentado, foi concluído que, cada criança possui um ritmo de aprender novas palavras, de acordo com os seus limites e seu ambiente. A criança apresenta uma pré-disposição para produzir palavras que estão inseridas no seu cotidiano, o que explica o fato de que criança observada (Ana Clara) ter um ritmo de aquisição da linguagem diferente de seus irmãos (que têm a mesma idade que ela, pois são trigêmeos) já que, cada um deles tem bastante contato com adultos diferentes.
Observou-se ainda que, as primeiras palavras da criança foram formadas por consoantes mudas e sonoras e, por vogais não-arredondadas. A mesma ainda não consegue formular perguntas com duas palavras ou mais, o que é perfeitamente normal para sua idade.













REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AIMARD, Paule.O Surgimento da Linguagem na Criança. Tradução de Claúdia Schilling.PortoAlegreArtemd,1998.






















ANEXO 1
“A mãe segura Dimitri, de dois meses, na banheira. Olhares intensos, voz risonha da mãe: “Vamos... sim, bebê...querido...vamos.” Grande sorriso de Dimitri, que mexe os lábios, produções de pequenos “eee”ao inspirar e depois sons contínuos. Em um leve movimento de vai- vém, como um balanço, como se estivesse sendo ninado.Alguns dias mais tarde, Dimitri no colo da mãe. Inicio mudo: eles se olham. Um olhar intenso, largo sorriso prolongado, e depois a criança emite um longo “rrr” seguido de “aeee”, modulando a voz. Recomeça e retoma, com uma expressão quase grave, como se estivesse fazendo algo muito importante. A mãe intervém muito pouco, responde “arre”. Um esboço de conversa. Dimitri com quatro meses, comendo com uma colherinha, com a ajuda da mãe. Olhos nos olhos, clima risonho. Com a colher na boca, o lábio inferior movimenta- se ritmicamente como quando dizemos “bababa”, mas percebemos apenas o barulhinho do lábio contra a colher. Na colherada seguinte, a energia duplica, Dimitri força a voz, pronuncia sons situados entre “bbbb” e “mmmm”, seguidos de uma boa risada. A voz da mãe aprova: “oh simmmmm...” e Dimitri, depois de engolir, ecoa a imitação dessa entonação.” (AIMARD: 1998,p.55)

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