sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Desenvolvimento linguagem inativista na criança



Antonia Noelia Lopes Rocha*
Clarice de Sousa Lima
Francisco Allan Sousa Sales


A partir do nascimento a criança começa a desenvolver a linguagem, podemos notar isso através do choro, gestos, sons, fenômeno conhecido como interação adulto-criança. Assim vai se desenvolvendo os parâmetros para a aquisição da língua materna.
Com essa interação entre o adulto e a criança (pré-linguagem) é que esta começa a balbuciar, isso por volta dos 2 a 3 meses de vida, através do balbucio selvagem. O balbucio são sinais de são sinais de desconfortos ou alguma necessidade de comunicação que a criança começa a expressar.
Logo no início da “linguagem” a criança produz sons parecidos com sua língua materna. Por exemplo, o [a] inaugura as vogais seguido do [e], [i] e [u]. Em seguida vem as consoantes [p] e [b], formas que vão se assemelhando ainda mais aos fonemas da língua .
A evolução do balbucio pode ser compreendida como vínculo , associações entre os sons dos fonemas e ao gesto motor na articulação, assim a criança começará a articular os fonemas percebidos/ouvidos. Daí surge a imitação e a memorização dessa associação . Na imitação as crianças fazem exatamente aquilo que veem os adultos fazerem, a linguagem dos outros e sobretudo, dos pais.
É a partir do da auto-imitação que surgirá as primeiras palavras, através da reduplicação silábica, onde a criança sente prazer em brincar com os sons, formas repetidas, dessa forma juntando os fonemas. Na heteroimitação a criança dá mais atenção ao som do que aos gestos. Ela progride passo a passo, reajustando continuamente seus ensaios.
Na aquisição das primeiras palavras a criança passa a compreender entonações de vozes reproduzidas por outros. Essas palavras permanecem flutuantes por muito tempo que por um tempo existe uma indeterminação na utilização dessas palavras.
Geralmente as primeiras palavras são “papai” e “mamãe” devido a facilidade de pronúncia da vogal “á” e as consoantes “p” e “b”, que em seguida há uma duplicação. Mas deve-se levar em consideração que nem sempre as primeiras palavras são “papai” e “mamãe”, poderá ser outra qualquer, porém simples, referindo-se à vida cotidiana da criança.
Se faz necessário lembrar que as primeiras palavras prestam serviço imediato à criança, permitindo-lhe falar de pessoas e coisas importantes do cotidiano como:
Vozes de animais e onomatopéias;
Nome de pessoas mais próximas;
Nome de alimentos e bebidas;
Nome de objetos e outros.
A criança ao produzir as primeiras palavras não detem limites e nem os encaixes às categorias lexicais. Colocam as palavras na mesma categoria. Essa hipótese sobre o desenvolvimento léxico vê a criança reunindo um banco de dados onde as características semânticas primitivas são associadas em grupo a um item lexical. Daí algumas palavras são utilizadas de forma mais ampla, ou seja, a criança começa a generalizar, devido terem poucas palavras em seu vocabulário.
Dessa forma, mesmo que a primeira hipótese sobre aquisição de linguagem seja de que a criança simplesmente adquire sons e significados, a investigação das primeiras palavras da criança indica que o conhecimento adquirido por aquelas de um ano de idade toma a forma de um sistema rico de regras e representações. Como esses sistemas abstratos foram deduzidas, principalmente, através das experiências das crianças na comunidade lingüística, as diferenças entre a gramática da criança e a do adulto são compreensíveis.
Nessa fase os adultos desempenham um papel de provedor de modelos muito importante para a construção da linguagem na criança. Estes reforçam e tornam precisas as primeiras palavras, dando atenção a frequência de dificuldades para a pronúncia de algumas delas.
Na produção e combinação de palavras dá a entender a construção das primeiras frases ou holófrases, por se tratar de uma palavra vaga, mas que quer dizer sempre muito mais . Cada palavra é rica em sentido e diz o essencial daquilo que quer comunicar. Mas a comunicação só será possível se o discurso for recebido por um adulto que conheça os hábitos verbais e situações da criança. Através de pedaços de discurso que ouvi, a criança constrói sua língua.
Essas frases simples, vagas, e pouco estruturadas, são expressivas e funcionam nas trocas verbais comunicativas entre a criança e as pessoas que a rodeiam.
Essa simplificação é bem visível e afeta os fonemas da língua e o encadeamento das palavras nas crianças. Portanto, não são capazes de produzir discursos longos de 4 ou 5 sílabas, às vezes um pouco mais . Elas simplificam porque têm dificuldades em encadear a pronúncia de diversas sílabas, talvez porque memorize com dificuldades ou se precipite. Às vezes a frase aparece totalmente aleatória nos primeiros enunciados de duas palavras. É o fenômeno chamado de adultomorfia. Mas nem sempre os enunciados das crianças são modelos resumidos ou simplicações de nossas frases, pois possuem sentido mais amplo e diz o essencial para que haja entendimento.
Elas pronunciam poucas consoantes (/Fl/, /Fr/, /Pr/, /Tr/, etc.) praticamente não aparecem. Mesmo quando elas se esforçam, quando tentam repetir nosso modelo, as dimensões são limitadas.
A produção de palavras precisa do encadeamento de atividades motoras finas muito precisas, e isso se adquire progressivamente, nem todas as crianças têm o mesmo ritmo nessa progressão, há algumas de três anos que “fala” como um adulto, enquanto outras ainda têm um jargão arcaico com 4 ou 5 anos.
Por volta dos três anos de idade, quase sempre as crianças aprendem a dizer “eu” a falar na primeira pessoa do singular. Depois desse pronome surgirá o “tu” no discurso, o “ele” quando se trata de um terceiro, assim como as formas no plural. “Nós” e “vós” são utilizados como complementos antes de tornarem-se sujeitos.
A criança domina progressivamente o conjunto do sistema e em momentos de urgência se confunde um pouco ou omite alguns pronomes. O uso de todos pronomes pessoais constrói referenciais para as crianças e vai facilitar a construção dos fonemas verbais. Podemos perceber que o aparecimento do “eu” tem uma grande importância, às vezes pode ser interrompido por alguns distúrbios psicopatológicos, é o caso dos autistas e dos cegos. Nestes sua aparição geralmente é um pouco mais tarde, porque tem dificuldades de perceber sua identidade, seu esquema corporal. Já os autistas, por sua vez, não conseguem dizer “eu”.
Outra característica dessa fase são as perguntas, que surgem como explosão aos três anos, decorrentes dos progressos linguísticos da criança que começaram a produzir enunciados mais longos, termos interrogativos. Podemos dizer que nessa fase a criança tem uma certa curiosidade intelectual, avidez de saber e desejo de descobrir o mundo.
Como a criança está em processo de descobrimento do mundo faz muitas perguntas. A partir disso muitos adultos não aguentam a insistência da criança, despertando ainda mais a sua curiosidade por não obter respostas.
A criança pergunta e repergunta várias vezes, isso acontece segundo a personalidade da criança, pois ela sente uma necessidade de compreender o que não foi entendido na primeira explicação. Ainda pode ocorrer certa comunicação com os adultos, atraindo assim sua atenção.
Após os três anos a aquisição continua de forma mais rápida e a criança passa a manipular melhor o sistema fonético da língua, porém o sistema ainda não é perfeito: utiliza pronomes e omite muitos; há muitas repetições, algumas aproximam-se daquilo que chamamos de gaguejo psicológico(como se repetíssemos para ter tempo de encontrar palavras para vir em seguida), outras devido a preocupação da fala correta principalmente com os encontros consonantais Pr e Tr.; faz confusões de algumas palavras.
Nessa fase, a criança começa a utilizar também os pronomes possessivos, desta forma delimitando claramente o que lhe pertence através da fala, reforçando com gestos. “Meu”, “seu”, são exemplos de marcas complexas a partir dos três anos de idade.
Vimos anteriormente que a criança desenvolve várias formas de adquirir a linguagem. Daqui começamos a explicitar melhor como funciona a aquisição da linguagem. Vale ressaltar que a aquisição refere-se aos fatores de amadurecimento nos progressos, surgimento e a construção da linguagem, surgindo desde os primeiros anos de vida.
No início a criança apesar de nascer com aptidões inatas para a construção, desenvolvimento da linguagem, ela necessita de um “banho de linguagem”, que é um dos pré-requisitos básicos para a aquisição.
Banho de linguagem é a comunicação pré-verbal ou fala do adulto que é transmitida a criança nesse período, podendo variar em quantidade, qualidade e diversidade. Este, que por sua vez, desempenha um papel fundamental no processe de aquisição. Tais esquemas interacionais formam o espaço da partilha com o outro, no qual a criança vai desenvolver determinadas funções, quer linguísticas quer comunicativas, primeiro em nível gestual e depois em nível verbal. Esses esquemas gestuais, serão linguísticos quando a criança tiver meios expressivos para exprimir as funções. Afinal, “ A linguagem é o espaço em que a criança se constrói como sujeito, o conhecimento do mundo e do outro, na linguagem segmentada e incorporada”
Nas trocas adulto-criança, o adulto desempenha um duplo papel, sendo agente passivo da linguagem, no qual apresenta modelos da língua à criança da forma mais assimilável possível, através de diversos meios como a entonação e outros. Mas seu papel também é ativo: escuta a criança , esforça-se para compreender o que ela quer dizer, oferecendo-lhe depois um modelo preciso, melhorando, conforme a língua.
Isso irá permitir que a criança se adapte aos hábitos do diálogo. Ela aprende a conversar, interrompe-se para deixar o outro falar, sabe escutar, presta atenção naquilo que o outro diz. Regras estas que aprenderam sozinhas e progressivamente.
Mas os adultos não são os únicos provedores da linguagem. As crianças também aprendem entre si, através da imitação e das modulações vocais do outro; um balbucia, o outro “responde”.
O prazer de ficar junto de um bebê maior ou mais jovem vai reforçando
as condutas de imitação, de repetição, onde o mais novo aprende com o mais velho.
As crianças extraem dos modelos o essencial que escutam para a partir daí construir( continuar) sua própria língua de acordo com suas competências. Elas prestam atenção à linguagem que lhe é dirigida ou que ouve ao seu redor, desta forma despertando atenção pelo mundo falado e manifestando interesse pelo universo sonoro.
Podemos dizer que para algumas pessoas há a ausência de interesse ou atenção ao mundo sonoro, talvez por limitar-se aos estímulos falados e deixar despercebidos as diferenças mínimas e sutilezas incluídas nas propriedades sonoras.
Construir a linguagem pressupõe ter a capacidade de discriminação, a criança tem de perceber, reconhecer, reproduzir as pequenas irregularidades de ordem acústica (diferenças entre fonemas que só diferem por um critério) ou outra ( distinção entre separação da cadeia falada).
Além da criança desenvolver habilidades de discriminação dos sons também desenvolve estratégias de compreensão, na qual elas começam a perceber diferentes sentidos, formas de enunciados. Pode ocorrer ainda a incompreensão do enunciado, desta forma captando apenas palavras soltas. O comprimento dos enunciados e ordem de ocorrência das palavras intervem e com freqüência se misturaram. Muitas crianças são incapazes de conservar sua atenção até o final de um enunciado muito longo, assim elas reparam apenas nas primeiras palavras.
Uma outra estratégia desenvolvida é a imitação, a qual imitam nossos gestos, ações da vida cotidiana, nossa entonação e as palavras que ouve.
Como visto anteriormente o adulto se destaca nessa fase, pois funciona como provedor de modelos, devido seu vocabulário ser mais extenso e mais rico.
Desde o primeiro ou segundo ano de vida, a criança imita e repete palavras, finais de frases. A repetição imediata é um dos procedimentos de apropriação mais produtivas.
A partir da imitação é que a criança começa a pronunciar palavras, construir frases. São essas manifestações concretas, observáveis que podem ser registradas. Daí considera-se que a criança está se adaptando aos quadros da linguagem.
As palavras produzidas não são improvisadas, nem fantasias, são formas organizadas e memorizadas prontas para serem utilizadas na situação apropriada. Partindo dessas memorizações é que a criança vai distinguir uma palavra parecida com outra. Mas muitas vezes a criança não consegue distinguir uma palavra, ou ainda não encontra um termo adequado para tal situação. É o que chamamos de generalização- extensão que é o uso abusivo da regra, ou seja, a construção de numerosas aquisições semânticas e gramaticais, expressões inexistentes que ela inventa no momento.
Essas produções momentâneas são também conhecidas como “erros bons”, que muitas vezes a criança não percebe.
Ela mesma pode se autocorrigir, isso com o auxílio adulto que deve deixar a criança perceber o seu próprio erro e tente corrigir. Esse jogo de erro-correção ou aproximação-correção, no qual o adulto está presente funciona de forma metódica e rigorosa com crianças que desejam falar e proceder corretamente.


Artigo produzido para a disciplina Aquisição da Linguagem, ministrada pelo professor Vicente Martins, da UVA, em Sobral. Os três são acadêmicos do curso de Licenciatura em Letras habilitação em Língua Portuguesa, na Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA, 3º período.

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