sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Os primeiros passos da linguagem





Erica Sampaio Nogueira Frota

Francisca Fernanda Rodrigues

RESUMO

Este trabalho apresenta o aparecimento da linguagem na criança, bem como esse processo de aquisição ocorre na criança. Este artigo traz também considerações sobre a natureza da linguagem, se adquirida ou inata ao ser humano e uma pesquisa de coleta de dados de uma criança quanto à aquisição de suas primeiras palavras.


Palavras-chave: Linguagem, criança e aquisição.


Introdução

Problemas como onde devemos situar o início da linguagem e quais os critérios a serem adotados: quando uma criança começa a balbuciar ? quando diz as primeiras palavras ? quando produz uma frase ? A aquisição da linguagem é adquirida por meio da interação com os adultos? A língua é adquirida como consequência normal do desenvolvimento maturacional da criança? Observando aspectos da vida cotidiana de uma criança poderemos ter uma referência sobre os assuntos levantados anteriormente.

Nosso objetivo é buscar e mostrar informações teóricas a respeito do tema, pesquisar e colher dados observados em uma criança de dois anos e dois meses de idade a fim de fundamentar melhor nosso trabalho.

Com tantos estudos e novidades na área neurocientífica ainda é muito difícil ser incisivo a respeito de onde devemos situar o início da linguagem, mas vamos com o que temos estudado e poderemos assim, situar o início da linguagem com o primeiro choro da criança ao nascer.

Vamos pensar na interação do adulto com a criança, nos momentos juntos, nas brincadeiras, é aí que podemos captar a essência do desenvolvimento da linguagem.

A comunicação entre os pais e/ou cuidadores e a criança é através do olhar, do choro, do sorriso, pela voz, pelo contato físico. A partir daí, podemos acompanhar os progressos do bebê, que começa a participar mais do ambiente da sua casa. O bebê começa a emitir poucos sons, depois começa a mudá-los, grita com mais intensidade e mais frequência que os pais e/ou cuidadores começam a entender o que o bebê está querendo e quando isto acontece é maravilhoso, pois há comunicação. É claro que o choro do bebê é uma forma de comunicar-se com o mundo, mas seus gritos e risadas intensificam e alegram muito mais incentivando o desejo de se comunicar.

Ao princípio, pequenas produções vocais são emitidas um pouco por acaso. Depois os movimentos casuais serão modulados pela imitação. Os primeiros sons do balbucio são mais ou menos iguais em diferentes línguas.

o [a], seguido de [e], [i] e [u];
as consoantes [p] e [b] são seguidas pelas nasais [m] e [n].

O balbucio evolui adaptando-se cada vez mais aos modelos fonéticos ouvidos. Primeiro a criança ouve o som que produz e cria-se um vínculo entre a forma acústica produzida e o esquema complexo do gesto motor que ela realiza ao articular tal fonema. Há muito mais que imitação no balbucio. O bebê sente prazer de brincar com sons, com a ajuda da voz. Existe um verdadeiro júbilo no balbucio, quando vê-se um bebê espernear, agitar braços e pernas. O balbucio adquire uma importância cada vez maior no esboço do diálogo.

Através da heteroimitação a criança ouve constantemente os adultos conversarem ao redor dele; essas produções contêm apenas o repertório fonético da língua e assumem o papel de modelo.

Durante esse primeiro ano é muito importante o papel da prosódia na aquisição da linguagem. É muito significativo também nessa fase a interpretação do discurso da criança pela mãe, que deve ter uma atenção absoluta àquilo que a criança diz e faz.

A partir do segundo ano de vida já aparecem as primeiras palavras com o início da constituição do léxico e, por volta do fim do segundo ano, a reunião de duas ou mais palavras que são festejadas como primeiras frases.

Papai e mamãe são palavras tão esperadas, solicitadas e desejadas que desempenham um papel muito especial nas produções da criança. Não dá para prever quais serão as próximas palavras, mas será uma palavra concreta, simples, referindo-se ao ambiente de vida criança. As primeiras palavras estão relacionadas com coisas importantes na vida da criança, como chupeta, água, sapatos...elas dirão o que querem. O papel do adulto nessa fase é reforçar e precisar bem essas primeiras palavras. O desenvolvimento correto do léxico da criança dependerá desse reforço.

Durante o terceiro ano formam-se as estruturas essenciais da língua. É nessa fase que ocorre a aquisição do “eu” e as “perguntas”. As crianças nessa etapa já é um bom interlocutor, repete uma história que lhe foi contada ou que conhece através de livros, produz frases construídas e dispõe de muitas maneiras de fazer perguntas.

O que se pode deduzir desse período de 0 a 3 anos em uma criança é o quão importante é a participação dos pais e / ou babás nessa fase de vida, pois dependerá dela toda a formação da linguagem das crianças e que cada criança possui seu próprio estilo e medida.
A aquisição da linguagem é adquirida? A língua é consequência do desenvolvimento maturacional da criança?

Podemos encontrar hoje muitas teorias a respeito de como a linguagem é adquirida. Uns defendem a idéia do inatismo, enquanto outros sustentam que a aquisição da linguagem deu-se por imitação, ou ainda devido ao meio social em que está inserido.
No seu livro Política, Aristóteles apresenta a linguagem como uma das características que difere o homem dos demais animais.
“... e o homem é o único entre os animais que tem o dom da fala.”
Na Grécia antiga já encontramos uma divergência sobre o assunto: A linguagem é natural aos homens ou é uma convenção social ? Nessa dimensão filosófica podemos mencionar duas concepções que se preocuparam em explicar fatos lingüísticos: o racionalismo (inatismo) e os empiristas (behavioristas).
Chomsky critica a explicação behaviorista para entender a aquisição da linguagem, alegando que ela é adquirida através das experiências empíricas, nos processos de estímulo – resposta, condicionamento, memorização e repetição. Por sua vez, acentua em seus trabalhos a criatividade e sua importância no comportamento humano, na qual se mostra claramente na linguagem.
De acordo com a Teoria Gerativa, proposta por Chomsky, a linguagem é uma característica inata e específica ao ser humano, assim uma das características exclusivas da nossa espécie é que todos nós temos inscritos em nosso código genético uma capacidade que nos permite adquirir e desenvolver a linguagem.
Para compararmos o processo inatista de aquisição da linguagem, Chomsky propõe uma metáfora chamada metáfora da fechadura.
“[...] cada criança nasceria com uma fechadura, pronta para receber uma chave; cada chave acionaria a aquisição de uma língua diferente, daí todas nascerem com a mesma capacidade e poderem adquirir as mais diferentes línguas.”
A visão inatista propõe que o Homem “possui uma Gramática Universal incorporada à própria estrutura de sua mente.”, isto é, o Homem já nasce biologicamente (geneticamente) equipado com uma gramática onde se encontram todas as regras possíveis da todas as línguas, um enorme conteúdo de informações, isto é, uma gramática universal.
Assim, a linguagem é atrelada às características inerentes a espécie humana, o que reafirma seu caráter universal, tomando a linguagem como um fator biológico e cognitivo. Ao assumir essa postura admite-se que o ser humano por natureza é detentor de uma gramática universal que possui princípios universais que fazem parte da faculdade da linguagem e parâmetro que serão definidos pela influencia do meio e pela língua nativa.
Portanto, o inatismo elabora uma grande reflexão sobre o caráter inato da linguagem, leva em conta a criatividade criadora do Homem e sua capacidade de produzir infinitas sentenças na língua materna, mesmo não tendo ouvido ninguém falar desse ou daquele jeito antes.
As idéias inatistas de Chomsky representavam uma verdadeira revolução para o conjunto de saberes dos anos 50. Muitas pessoas foram radicalmente contra Chomsky. Entre elas estão os psicólogos Jean Piaget e Burrhus Frederic Skinner, que muito influenciam até hoje o pensamento ocidental moderno, entendendo o homem como um produto da sociedade e da cultura. Sempre defendendo o componente inato, ou o substrato genético no desenvolvimento humano. Chomsky travou duros embates contra Skinner e Piaget, embates estes registrados em livros que se tornaram indispensáveis tratados epistemológicos da ciência atual.

Conclusão

Até hoje as discussões a cerca de aquisição da linguagem ainda perduram e isso contribui para que novas vertentes surjam e assim, podermos aprimorar a qualidade do desenvolvimento da linguagem nas crianças e ter ferramentas importantes para discernir quaisquer problemas que porventura apareçam.

Ao finalizarmos o presente trabalho pretendeu-se somente discutir e analisar as teorias já disponíveis na sociedade relacionados ao tema proposto.

REFERÊNCIAS

AIMARD, Paule. O surgimento da criança na criança. Porto Alegre: Artmed, 1998. [Capítulo 2, p.55 a 103].

AIMARD, Paule. O surgimento da criança na criança. Porto Alegre: Artmed, 1998. [Capítulo 3, p.105 a 143].

BALIEIRO JR, Ari Pedro. Psicolingüística. In MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina. (orgs.). Introdução à lingüística: domínios e fronteiras, v.2. São Paulo: Cortez, 2001. [p.171-201].

SCARPA, Ester Mirian. Aquisição da Linguagem. In MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina. (orgs.). Introdução à lingüística: domínios e fronteiras, v2. São Paulo: Cortez, 2001. [p.203-232].

STERNBERG, Robert. J. Psicologia cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2008. [Capítulo 9, p.294-325].

SHAYWITZ, Sally. Entendendo a dislexia: um novo e completo programa para todos os níveis de problema de leitura. Tradução de Vinícius Figueira. Porto Alegre: Artmed, 2006. [p.101-133].

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