sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Considerações e perspectivas para o Desenvolvimento do discurso Narrativos das Crianças





[*]Nayara Martins LealNelidiana Pinto Araújo




Resumo

Os estudos sobre a influência dos fatores sociais na aquisição da linguagem tiveram grande impulso com as críticas às considerações de Chomsky de que havia uma "pobreza dos estímulos" e, portanto, a criança não poderia adquirir a linguagem a partir do meio social. Autores da perspectiva da Interação Social no estudo da linguagem desafiam a posição chomskiana, e evidenciam a importância da interação social para a aquisição da linguagem, especialmente as relações da criança com a mãe. Essas relações representam um sistema dinâmico, segundo o qual ambos contribuem com suas experiências e conhecimentos para o curso da interação. A linguagem é entendida, nesta perspectiva, enquanto comunicação, e portanto é anterior ao surgimento das palavras. Neste trabalho, pretende-se apresentar as explicações desta perspectiva teórica sobre o processo de aquisição da linguagem infantil. Serão discutidos os efeitos da fala materna e sua influência na aquisição da linguagem por parte da criança.


Introdução:

A linguagem é o meio de adequação do individuo a sociedade. Como meio tradicional de comunicação, ela é o instrumento de transmissão de idéias, bem como a ocultação dessas, da alienação e da segregação.
A aquisição da linguagem é o processo pela qual a criança aprende a sua língua materna. A respeito desse processo, há boas razões para se afirmar que a aquisição da primeira língua é a maior façanha que podemos realizar durante toda a vida.

I Parte

Psicolingüística

Caracteriza-se por estudar as conexões entre a linguagem e a mente. Começou a se destacar como uma disciplina autônoma nos anos de 1950. de alguma forma seu aparecimento foi promovido com o lingüista Noam Chomsky.
A psicolingüística analisa qualquer processo que diz respeito a comunicação humana, mediante o uso da linguagem, seja ela de forma oral, ou escrita, gestual, etc. Ela estuda também os fatores que afetam a decodificação, ou seja, as estruturas psicológicas que nos capacitam a aprender expressões, palavras, orações e textos.
Outras áreas da psicolingüística são centradas em temas como a origem da linguagem no ser humano. Algumas analisam o processo de aquisição da língua materna e também a aquisição da língua estrangeira.


Noam Chomsky

Chomsky defendia que a lingüística precisava ser encarada como parte da psicologia cognitiva. Segundo ele os humanos têm uma gramática universal inata, em que a linguagem está veiculada a mecanismos inatos e também comuns a todos eles. Porém, o conhecimento da língua é bem maior que a sua manifestação.
Essa gramática inata é parte do patrimônio genético humano, não temos consciência de seus princípios estruturais da mesma forma como não temos consciência de outras propriedades biológicas e cognitivas que temos.
Chomsky descarta a possibilidade de a linguagem ser aprendida, já que só se pode contar com migalhas de fala ouvida pelas crianças, que não fornecem pistas suficientes para o estado final da língua a ser aprendida.
A versão da gramática generativa de Chomsky, aborda também que a criança que está a aprender uma língua precisa adquirir apenas os itens necessários (isto é, as palavras) e fixar os parâmetros relevantes.
Esta abordagem baseia-se na rapidez espantosa com quais as crianças aprendem línguas pelos passos semelhantes dados por todas as crianças, e também, pelo fato de realizarem certos erros característicos quando aprendem a sua língua mãe, enquanto que outros tipos de erros aparentemente lógicos nunca ocorrem. Isso acontece porque as crianças estão a empregar um mecanismo puramente geral baseado em sua mente e não especifico baseado na língua que está sendo aprendida.


Aquisição da Linguagem

As pessoas parecem adquirir sua língua materna, no mesmo ritmo e de forma parecida. Segundo, (STEMBERG, 2008), “desde o primeiro dia os bebes parecem estar programados para sintonizar com seu ambiente lingüístico, com o objetivo especifico de adquirir linguagem”.
Porém, o essencial para o inicio da linguagem está na interação que ocorre entre o adulto e a criança.

(...) Por outro lado, não falaremos de aprendizagem ou do ensino de linguagem. Por quê? A evolução descrita é aquela que segue naturalmente seu curso que de alguma forma faz parte da evolução normal de uma criança. A formação da linguagem não é objeto de uma aprendizagem. O que podemos ensinar a uma criança baseia-se naquilo que ela mesma já construiu; enriquecemos, melhoramos sua linguagem, mas isso não acontece logo no inicio. (AIMARD: 1998, p.58)


As crianças em processo de aprendizagem de uma língua materna, utiliza-se de vários métodos para se expressarem, como através de uma linguagem não verbal, com expressão facial, sinais, e também quando a criança começa a responder, questionar e argumentar.


Balbuciando

Sem levar em conta as mudanças biológicas que facilitem o desenvolvimento lingüístico que ocorrem nos primeiros meses de vida da criança, é o balbucio dos bebes de aproximadamente seis meses que sinaliza o começo da aquisição da linguagem. Esse período pode ser descrito como pré lingüístico, por que os sons produzidos não são associados a nenhum significado lingüístico.
Esse estagio do balbucio é marcado por uma variedade de sons que muitas vezes são usados em algumas das línguas do mundo, embora não seja a língua que a criança irá falar posteriormente
Primeiramente ela produz qualquer tipo de sons e depois há uma evolução no balbucio, pela qual ela progredirá e limitar-se somente ao sistema fonético da língua que estará exposta.
Aimard ressalta que essa evolução pode ser compreendida facilmente.

(...) a partir dos cinco ou seis meses, ela gosta de repetir sons que acabou de produzir, por prazer e para se exercita. Essas auto-imitações reforçam a ligação “forma acústica-forma motora”, que é uma espécie de esquema memorizado do fonema. A partir dessas primeiras tentativas, é provável que algumas crianças sintam necessidade de treinar mais do que outras e que para algumas isso seja mais prazeroso que para outras. (AIMARD: 2001, p.60)


Primeiras Palavras:

Poucos meses antes de completarem um ano as crianças produzem suas primeiras palavras. Durante esse estagio, as suas falas se limitam a uma palavra. Que são pronunciadas de maneira um pouco diferente da dos adultos.
Muitos fatores contribuem para essa pronuncia não usual, alguns sons parecem estar fora da escala auditiva das crianças. Sons que são difíceis para ela aprender.
Aimard nos diz que “(...) é provável as pessoas que rodeiam a criança nem se dêem conta das primeiras palavras”.
Dessa forma, mesmo que a primeira hipótese sobre aquisição da linguagem seja de que a criança simplesmente adquire sons e significados, a investigação das primeiras palavras da criança indica que o conhecimento adquirido por aquelas de um ano de idade toma a forma de um sistema rico de regras e representações. Esses sistemas abstratos foram deduzidos principalmente atavés das experiências das crianças na comunidade lingüística, as diferenças entre as gramáticas da criança e do adulto são compreensíveis.
Crianças nessa faze, podem pronunciar palavras de forma diferente e também querem dizer com essas palavras coisas diferentes, ou seja, querem expressar significados complexos com expressões curtas.
A medida que aumenta a complexidade da gramática que gerencia essas palavras, mesmo assim ela ainda continua sendo deficiente em relação á do adulto. O discurso das crianças entre dois e ter anos de idade é descrito como telegráfico, omitindo certas palavras como determinantes e preposições. Alem disso, existem problemas com as estruturas que não seguem uma regra geral, por exemplo, é comum as crianças dizerem em trazi, generalizando a regra dos verbos regulares. O interessante é que antes de cometerem este erro, elas passam por uma fase em que usam o verbo adequadamente. Uma explicação para essa regressão é que no inicio elas simplesmente imitam a formação do verbo, mas tarde, no entanto, após aprender a regra de formação, elas simplesmente a aplicam para todos os verbos. Porem, com o passar do tempo acabam aprendendo a forma certa, mesmo que seja através da memorização.
II parte

Entrevistado: Guilherme Pinto Bastos
Idade: 34 meses
Mãe: Aline Gomes Pinto
Pai: José Jauro de Araújo Bastos Filho
Cidade em que mora: Itapajé

O Guilherme é um garotinho muito esperto, ele foi o escolhido para a pesquisa. A sua mãe Aline, é ainda muito jovem, teve seu filho durante a adolescência, mas mesmo assim se mostrou uma mãe observadora e muito dedicada.
Em entrevista com a mãe do garoto, ela nos relatou quais foram as suas primeiras palavras.

Mama – (mamãe)
Papa – (papai)
Vovó
Não
Neném
Au au
Miau
Tchau
Nâna – a Joana sua tia
Nida – Ivanilda
Ine- Aline

As sua primeiras frases foram :

“ papai siá” - ( papai vamos passear).
Caiu mamãe
Neném da mama – neném da mamãe
Quer maisi – quer mais
Mamãe bora – convidando a mãe para ir embora
As primeiras perguntas:

Cadê o gagau? – perguntando pelo mingau
Cadê papai?
Cadê mamãe?

Palavras que geraram mais dificuldades na criança:

Melancia ( melancila)
Alfredo ( freto)
Morango ( lorango)

Cada criança progride conforme o seu próprio ritmo é impossível compreender a linguagem isolada do resto. Tanto em crianças aprendendo línguas diferentes, quanto em crianças aprendendo a mesma língua. Nenhuma seqüência de emergência pôde assim ser detectada segundo qualquer critério, a não ser o da extensão dos enunciados.
Esse critério, porém, além de meramente quantitativo, esbarra na dificuldade de identificar as unidades a serem contadas no enunciado da criança. Inicialmente a criança produz qualquer ruído, mas tarde esse ruídos evoluem , adaptando-se cada vez mais a linguagem das pessoas que o cercam.
Dentre as palavras que aparentemente coincidiam com as unidades da produção adulta, muitas não são produtivas na fala da criança, já que não comparecem senão uma vez ou outra em um determinado período.Outras tantas comparecem as vezes com certa freqüência, essas freqüentes podem ser palavras do cotidiano da criança, ao qual elas escutam com certa freqüência.
Ninguém sabe exatamente o que pode ser considerado palavra, apesar de certas mães serem realmente atentas à linguagem de seus filhos e observarem os ruídos produzidos por eles diariamente. Da mesma forma a mãe do Guilherme cita apenas as primeiras palavras a qual ela conseguiu identificar. Mas ele pode ter adquirido outras palavras anteriores a essas, mas que a mãe não conseguiu identificar.
Devemos levar em consideração também, que a influencia da mãe e também da família é muito importante nesse contexto, elas representam para a criança um modelo a ser seguido.

(...) Quando ele conversa com o adulto, este tende a repetir e a valorizar , sem mesmo perceber , os sons que pertencem a língua corrente... o [r] que ele envia é [r] pronunciado pela maioria dos franceses. Por meio de um jogo de imitações, de repetições, de reforços, de correções (dar a forma correta), o adulto modela o repertório fonético do bebê. (AIMARD: 2008, p.60)

Nas primeiras palavras do Guilherme podemos perceber a presença de onomatopéias , que fazem parte do repertorio de quase todas as crianças ( miau, au- au). Nomes de Pessoas (Nida, Nâna), e é claro as palavras mamãe e papai , que são as mais esperadas e geralmente as que são produzidas primeiramente pelas crianças. Porém elas podem ate produzir alguma palavra relacionada ao seu cotidiano antes mesmo de pai e mamãe, porem, a comunicação só será recebida por algum adulto que conhece a criança , seus hábitos verbais e a situação em que ela pronunciou as palavras. Todas as palavras da criança precisam de um contexto para ser entendidas.
Da mesma forma, o que acontece com as palavras, acontece com as frases, a comunicação só será possível se a sua frase for recebida por alguém que conhece os seus hábitos verbais e a situação que ela pronunciou a frase.
A criança não espera até os três anos para mostrar curiosidade e fazer perguntas, no caso do Guilherme , por exemplo elas começaram a surgir mais ou menos entre os 24 meses, mas somente a partir dos três anos que as perguntas vão surgir ainda com mais freqüência. Algumas chegam a ser ate mesmo insistentes.
Tudo acontece como se as crianças compreendesse intuitivamente alguns mecanismos da língua, a qual Chomsky chamou de gramática internalizada do falante. Aquelas que falam bem aos três anos continuam a progredir , mas as outras precisam da ajuda dos adultos
As considerações inicias da primeira parte, foram reforçadas ainda mais na segunda parte, na prática, ou seja, na entrevista com o Guilherme e os pais.

Conclusão:

Esperamos com esse trabalho atingir o nosso objetivo , e ter respondido as perguntas que me foram feitas. Com muito esforço e dedicação conseguimos concluí-lo, não foi fácil devido ao nosso tempo que é pouco e temos que dividi-lo entre os nossos trabalhos e o nosso curso e também tem a distancia, que para nós é também um grande empecilho.
Mas, foi muito prazeroso, pois é uma área pela qual manifestamos um imenso interesse. Esperamos atingir as expectativas esperadas, por nós, pelos entrevistados e também pelo nosso orientador. Embora tenha-se muito o que se estudar nesse vasto campo de estudo .

Referências:

AIMARD, Paule. O surgimento da linguagem na criança. Porto alegre: artmed, 1998.

BALIEIRO JR, Ari pedro. Psicolingüística. In MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina. (orgs.) Introdução a Lingüística: Dominios e fronteiras, v.2. São Paulo: Cortez, 2001.

SCARPA, Ester Mirian. Aquisição da Linguagem. In MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina. (orgs.) Introdução a Lingüística: domínios e fronteiras, v.2. São Paulo: Cortez, 2001.

STEMBERG, Robert. J. psicologia Cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2008.

MARTINS, Martins. A teoria behaviorista da aquisição da linguagem . Acessoem: 20/05/2009. Disponível em:<
http://www.profala.com/arteducesp71.htm>.


[*] Alunas do 3ª Período de Letras. Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA.

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