sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

ENTENDENDO O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM DA CRIANÇA










Francisco Edivaldo Eufrásio da Silva*
Heliomar de Oliveira Clarindo*
Priscila Jorge de Brito*
[1]

RESUMO


Com esta pesquisa pôde-se comprovar o quanto o processo de aquisição da linguagem é importante. Existiu a preocupação em explorar todas as características presentes nas idades iniciais da criança. A aquisição da linguagem por ser todas as habilidades relacionadas à fala nos proporcionou investigar tudo de mais importante nos primeiros anos de vida da criança. Houve a preocupação em explicar aos leitores tudo o que ocorre na aquisição da linguagem da criança como: o situamento do inicio da linguagem, o balbucio, as primeiras palavras, a primeiras frases, a linguagem adquirida e a linguagem como conseqüência normal do processo de formação da fala da criança. Foram apresentadas também aqui, duas pesquisas com crianças de idades diferentes, com a finalidade de observar as primeiras palavras, as primeiras frases, as primeiras perguntas, as palavras que geraram dificuldades na hora da pronúncia e quais as estratégias mais usadas pelos pais para que as crianças aprendessem novas palavras. Vale ressaltar que o objetivo principal em todo este estudo foi entender todo o processo de aquisição da linguagem da criança, e repassar de maneira clara e objetiva ao leitor. Conclui-se, então que a aquisição da linguagem da criança torna-se algo diferenciado porque parte do pressuposto do inatismo. A linguagem por ser algo que já é da natureza do homem acaba gerando muita polêmica, porém não deixa de ser acreditado que a linguagem é aquilo que rege todo o desencadear do homem no convívio social e requer um pouco de algo que a reforce.

PALAVRAS-CHAVE
Linguagem, Balbucio, Primeiras Palavras, Adquirimento, Inatismo, Criança.

Segundo Paulo Aimard, “o adulto não tenta ensinar nada a criança; eles são felizes juntos. A comunicação passa por olhares, sorrisos, posturas e voz.” (Aimard, 1998, p.56). A partir desta idéia, pode-se ver que o inicio da linguagem inicia-se com estas apresentações. A criança se depara com os olhares que os pais a fazem, com isto despertando já um interesse de comunicação, depois vem um sorriso, mais uma forma de entrelaçamento entre pais e filhos. O sorriso por ser algo constante nas crianças faz com que as mesmas dialoguem através dos risos e das gargalhadas. A postura dos pais da criança também traz mais uma forma constante de comunicação, pois as crianças tentam ao máximo imitar todos os movimentos dos pais, como os sons emitidos, o modo de mexer-se, de comer, de andar, enfim, a postura dos pais trará benefícios bons para a representação da comunicação das crianças. A voz torna-se um dos papéis importantíssimos para o processo de formação da fala da criança, pois é através do meio em que ela vive que ela aprenderá a falar, a emitir sons, por isso diz-se que a voz dos pais é um fator logicamente necessário para aquisição da fala da criança, pois a criança aprende muito fácil a imitar tudo o que ver e escuta.
A linguagem inicial da criança dá-se a partir dos movimentos e da motricidade. É comum vermos crianças com o desenvolvimento da fala muito lento e já outras crianças apresentam um nível muito elevado da fala. Com isto, muitas pessoas perguntam-se, por que este atraso da fala em algumas crianças? E por que outras apresentam a fala como algo já muito elevado? A resposta que se obtém, é que cada criança progride e situa-se a fala através de seu próprio ritmo, o progresso da aquisição da fala da criança varia muito e por isso a razão deste comportamento. Crianças demoram manifestar sua fala e outras falam pelos “cotovelos”. Mas o importante é que se uma criança embora não sendo criada dentro do convívio social, e sim criada totalmente excluída da fala humana, pode-se ter certeza que esta criança em algum momento de sua vida irá emitir algum som, falar alguma palavra cabe até então neste contexto a questão do “inato” versus “adquirido”. Acredita-se, portanto que a fala é inerente ao homem, pois embora ele seja criado em uma privação, som em algum instante vai proferir.
No século VII a. C o rei Psamético do Egito ordenou que duas crianças fossem confinadas desde o nascimento até a idade de dois anos, sem convívio com outros seres humanos, a fim de observar as manifestações “lingüísticas” produzidas em contexto de privação interativa. Sua hipótese era que se uma criança fosse criada sem exposição à fala humana, a primeira palavra que emitisse espontaneamente pertenceria à língua mais antiga do mundo. (SCARPA, 2001, p.203).

Um fato muito importante em relação à linguagem inicial da criança, é que nunca se deve esquecer que a linguagem jamais pode ser isolada do resto, ou seja, a linguagem é parte integrante de todos os processos de aquisição, processos de adquirimentos de ações, movimentos, sentimentos, entre outros da criança. Por isso não se pode de maneira nenhuma esquecer que todos os processos da fala da criança serão dados a partir dos pais e das pessoas que convivem com a mesma, o fato de que a criança tem em sua natureza a forma de imitação, nos possibilita a responsabilidade de nos comportarmos bem, pois as crianças irão imitar essas pessoas em todos seus movimentos e sons. Isto se torna importante, pois com isso as pessoas irão ter a preocupação de repensarem seus atos, o importante também é que com isto, todos irão saber o quanto são intermediários para o processo de aquisição da linguagem da criança. Então a fase de imitação da linguagem da criança compreende todos os modos pelos quais as pessoas se comportam, esta também tem seus problemas, pois é uma fase que atrai muita das vezes as dúvidas dos pais em relação ao início da linguagem, até porque não é muito fácil de entender todo este processo, cabe então um pouco de estudo à respeito. Mas o certo é que os fatores mais importantes para a aquisição da fala da criança estão bem próximos da mesma, que são a responsabilidade dos pais, pois é através deles que a criança começa seu método de imitação, imitando em principal, gestos e sons como já foi neste estudo relatado, e o outro fator importante para a aquisição da fala da criança é a questão do inatismo, pois a criança já nasce com o dom da fala, o dom da linguagem. No caso de crianças surdas-mudas, o modo de se comunicar através de gestos não deixa de ser uma forma de linguagem, pois o dom da linguagem, já que é inato, nasce para todos. Vale ressaltar que os modos de comunicação da criança se adéquam aos poucos ao meio por serem complexos ao entendimento social.
Segundo Paule Aimard, “A partir dos primeiros meses e durante o seu primeiro ano, a criança adquire capacidades interativas e balbucia”. (Aimard, 2001, p.59). Com isto pode-se perceber que os balbucios da criança já começam bem cedo, e estes balbucios são todos os sons produzidos pelas crianças. Um dos fatores mais importantes em relação ao balbucio é a imitação.
Como aqui já foi citado, a criança quando está nesta fase tenta ao máximo observar todos os movimentos dos lábios dos adultos, mas apesar disto elas não conseguem balbuciar, pois isto requer um pouco de tempo. Às vezes a criança emite por acaso alguns sons vocais, um dos motivos para isto acontecer é quando os órgãos da fonação entram incondicionalmente em funcionamento. A questão do balbuciar da criança possui sete processos de evolução. No início a criança começa a balbuciar sons diversos, ruídos sem muita lógica, como se fossem balbucios “selvagens” como é colocado no texto de Aimard. O fato é que estes balbucios evoluem e vão se adaptando aos modelos fonéticos e à língua materna. Com isto, então, se observa que a criança sente a necessidade de ouvir e depois reproduzir o que ouviu, a partir disso, depois de algum tempo ela vai aprimorando suas articulações dos balbucios e vai repetindo em vezes os sons, com isto a criança tem o objetivo de exercitar tais sons. Esta questão de repetição dos fonemas é chamada de “forma acústica. - forma motora”, que é responsável pela memorização. Porém, o fato da repetição dos fonemas como forma de treinamento não é comum em todas as crianças, somente naquelas que são mais esforçadas.
É importante ressaltar que as crianças ao imitarem os adultos, elas tendem a uma imitação materna, ou seja, todos os sons repetidos por elas são pertencentes a uma língua de origem. E no caso, é a partir desta idade da criança que ela vai fazer a diferenciação pronunciativa dos sons de outras línguas.
Umas das explicações que também cabe no contexto do balbucio é o fato de as crianças terem mães que conversam demais. Isso faz com que a repetição constante dos vocábulos emitidos pelas crianças torne-se algo constante, geralmente isso acontece por volta do terceiro ao quarto mês da criança. Podemos pensar que a mãe que conversa frequentemente com o bebê, que lhe dirige muitos comentários e brincadeiras verbais, leva a criança a responder- lhe por meio de vocalizações. (Aimard, 2001,p.61).

Quando a criança está com 10 meses de idade ela começa a gostar e usar constantemente a pronúncia dos vocábulos fonéticos como forma de treinamento. Nesta idade ela também já tem a capacidade de entender alguns vocábulos como, por exemplo: “não, não”.
A criança no início dos dois anos de idade continua com a imitação de vocábulos. Com um nível de imitação um pouco mais avançado, neste período a criança aumenta a sua capacidade de compreensão.
As primeiras palavras pronunciadas pelas crianças são “papai e mamãe”, pelo fato de elas terem a capacidade de aprender com mais facilidade as consoantes “p” e “m” e a vogal “a”. A criança às vezes chama a “mamãe de papai”. Segundo o autor Aimard isto acontece devido ao lado mais engraçado e implicante que a criança possui. A criança por estar em convívio constante com os pais,são pressionadas a emitirem de antemão as primeiras palavras sendo elas “papai e mamãe”. Mas não se pode esperar já com certeza que as crianças emitam primeiramente estas duas palavras, pois a partir do convívio da criança é que irá perceber quais palavras ela emitirá primeiro. No caso se os pais repetirem, constantemente para que elas falem primeiro estas duas palavras, pode-se esperar isto, até porque a linguagem necessita um pouco de estímulo condicionador.
“Papai e mamãe” são palavras esperadas, solicitadas, nas quais se investe tanto, que desempenham um papel muito especial nas produções da criança. Haverá uma grande surpresa se a primeira palavra não for “papai” nem “mamãe”. (Aimard, 2001,p.63)

Torna-se muito importante dentro do processo de aquisição da linguagem da criança, o fato de os pais corrigirem os filhos logo quando pronunciam palavras erradas. As crianças por não assimilarem de imediato os sons que ouvem, acabam tendo um pouco de dificuldade na pronúncia, cabe então aos pais fazer a correção e repetirem várias vezes o modo correto de pronunciar as palavras.
O adulto reforça e torna precisas essas primeiras palavras. Sua pronúncia é tão aproximada que com freqüência é difícil entender o que a criança está dizendo. É preciso compreender, depois traduzir ou repetir na forma correta aquilo que a criança pronunciou à sua maneira. (Aimard, 2001, p.65)
Após a criança passar por a fase das primeiras palavras pronunciadas, isto no início dos dois anos de idade, ela passa para uma fase em que começa a organizar as palavras, os conjuntos de palavras, construindo assim suas primeiras frases. Porém estas frases são apenas palavras convencionais como, por exemplo, ”está frio”, ”acabou a coisa”, entre outros. Vale ressaltar que a pronúncia das frases da criança neste período é um pouco defeituosa. A criança também por basear-se em todos os sons que escuta, associa estes sons e os transforma em sua fala original, a mesma por não ter limites na fala, pronuncia tudo que escuta aleatoriamente.
Skinner “propõe enquadrar a linguagem (ou comportamento verbal)na sucessão e contingência de mecanismos de estímulo- resposta - reforço,que explicam, que explicam o condicionamento”.(SCARPA,2001,p.206). Segundo esta teoria a linguagem torna-se adquirida porque necessita de um estímulo condicionador. Realmente pode-se comprovar que a linguagem da criança, assim como qualquer outro tipo de aquisição segue um padrão para que tudo seja realizado através de algum estímulo. Todas as atividades realizadas pela criança, assim como escrever,andar de bicicleta, etc. seriam exemplos propícios de como a linguagem da criança torna-se dependente de ensinamento dos pais e de outras pessoas que têm acesso a estas crianças. O fator “adquirir” é muito polêmico, por ser a representação de todo o processo de aquisição da linguagem, esta tese é defendida por muitos estudiosos, porém é discordada por outros. Realmente o processo de aquisição da linguagem da criança está um pouco voltado para o “adquirimento”, a criança necessita de certa forma de algum ensinamento, principalmente quando elas estão no período de pronunciação das primeiras palavras. Uma coisa talvez seja certa durante esta fase da criança, o fato de ela necessitar daquilo que é mais importante para ela que é a linguagem, faz com que a mesma tenha todo o ensinamento e todo engajamento da parte de seus pais, pois a linguagem embora sendo algo que para muitos já nasce com o homem, carece um pouco de “processamento acompanhado”, que é a questão da linguagem adquirida.
Chomsky “adota uma postura inatista na consideração do processo por meio do qual o ser humano adquire a linguagem. A linguagem, específica da espécie, dotação genética e não um conjunto de comportamentos verbais, seria adquirida como resultado do desencadear de um dispositivo inato, inscrito na mente”.(SCARPA,2001,p.204 ).

A partir desta idéia pode-se ver o quanto a linguagem do ser humano é aceita por ser algo inato,ou seja de sua própria natureza. Esta tese geralmente é defendida e aceita por muitos, talvez pelo fato de algumas crianças terem mais facilidade de falar suas primeiras palavras .Observa-se então que a criança nasce com o dom da linguagem. Por isso é que se pode dizer que a criança embora sendo isolada do convívio social, em algum momento ela vai emitir alguma palavra, sem nenhum tipo específico de estímulo condicionador. Ela vai emitir apenas por obedecer ao que sua natureza está pedindo. O fato é que a aquisição da linguagem por ser um dispositivo inato requer o estudo e o aprofundamento, pois é necessário saber cada passo desta fase do homem. O inato talvez seja um grande presente para todos aqueles acredita que o modo de comunicação do homem seja algo de muita significância dentro do contexto social. Pessoas que acreditam que a criança aprende tudo a partir do dom que receberam o dom que transforma e os faz com que tornem homens de bem e homens de sucesso, tais são responsáveis apenas para acompanhar toda a fala da criança e não para ensinar estas a falarem. A linguagem por ser algo que já nasce com o homem faz com que o mesmo torne-se tudo aquilo que sempre sonhou. O dom do inatismo salva a todos. Falar significa ter tudo nas mãos, a linguagem por si só não é nada, porém junto ao homem é tudo.
Sempre se observava a ansiedade das pessoas e principalmente a dos pais, em relação à primeira palavra da criança, têm-se a cultura que a se primeira palavra que ela fala for de uma “pessoa”, esta é a mais especial para ela, porém, nada comprova isso, a criança terá mais tendência em falar palavras com sílabas de fácil pronúncia, presente em seu cotidiano.
Na pesquisa realizada sobre o processo se aquisição da fala da criança para a elaboração deste trabalho foram observadas duas crianças, sendo que uma delas é o filho de um dos autores do presente artigo. Apresenta-se a seguir os relatos de Edivaldo Eufrásio, sobre o processo de aquisição da linguagem de seu filho Cauê:
“Em minha pesquisa, observei meu próprio filho, hoje com 25 meses. Ele começou a balbuciar desde o quinto mês. Com a orientação do pediatra, sempre ficávamos atentos aos seus sentidos, se falássemos, observávamos se ele olhava, ou seguia o som de nossa boca.
Ao 9º mês a primeira palavra, “dadai”, para dizer (papai). Tínhamos até então a certeza que era papai, pois ele sempre tentava repetir em minha presença, já que o “d” faz parte das primeiras consoantes dita pelas crianças e o “i” embora não sendo considerada a primeira vogal dita na aquisição, é uma vogal de fácil pronúncia. Porém com a leitura de Paule Aimard, pude perceber em estudos já feitos pelo autor, que não temos a certeza na destinação da criança entre as consoantes [p], [b], [d], já que são misturadas no primeiro ano com o balbucio da criança. Então surgiu-me a dúvida se Cauê teria dito “papai”,” babai” ou “dadai”.
Depois de registrado a primeira palavra, continuava mesmo com um pouco de ausência, já que eu e sua mãe não estávamos mais juntos, a observar o desenvolvimento de sua linguagem. Vieram até antes dos 12 meses, ago: (água), li: (ali), dê: (cadê), esta última vinha acompanhada com um gesto de mão, assim como o nan (não).
Cauê teve um adiantamento em sua aquisição, já que na média as primeiras palavras, são ditas a partir do primeiro ano, porém nessa idade ele já tentava juntar duas palavras.
Este adiantamento talvez se deva ao fato de sempre mostrar-lhe objetos, na hora do banho, pergunto a ele todas as partes do corpo, incentivo a dizer sempre o nome dos brinquedos, das pessoas, e de coisas que façam parte de seu cotidiano. Sempre demos muita importância ao que Paule Aimard chama de capacidade interativas “Pré-verbais”, ou seja, o que passa pelo corpo, pelas atitudes, pela postura, olhares, gestos etc. e sempre tivemos a preocupação de dá a ele uma oportunidade de troca (feedback).
Aos 13 meses já começava o interesse de juntar duas palavras, e estas foram: Dê meu (me dê, que é meu!) compreendíamos, já que balbuciava, quando alguém pegava seus brinquedos. ”Óia nenen” (olha o neném!), quando via alguma criança,embora esta não fosse mais neném, ocorrendo aqui uma generalização da palavra.”Siá dadai”(passear papai), com 14 meses ao dizer essa frase procurava logo o sapato, pois assimilava que quando fosse passear, calçaria o sapato,”tia dadai”(tchau papai), toda vez que me via sair para o trabalho.
Seguido das “primeiras frases”, surgiram algumas perguntas simples, compreendidas mais por nós, mais presentes em sua vida. “Dê gagau?” (Cadê o mingau?), ”dê dadai?” (Cadê o papai?).
Até então era visível o desenvolvimento em sua linguagem, porém, no décimo quinto mês, parecia ter ele adquirido um “repertório”, as palavras adquiridas se tornaram cada vez mais repetidas, embora sempre tentássemos inserir nesse processo novas palavras, parecia ter limitado seu linguajar, mesmo explorando cada vez mais o que tinha adquirido.
Por incrível que pareça, Cauê, teve uma grande dificuldade em pronunciar “mamãe”, ”madrinha”, ”padrinho”. Sua mãe chegava até se chatear um pouco, a palavra se tornava cada vez mais esperada. Ele pronunciava a letra “m” em “mais” comprovando o que eu já havia percebido, que ele tinha facilidade em palavras curtas, que tivesse a vogal “i”,até mais que “a”.
Essas palavras que considerei como difícil, ele disse já com ano, e em relação à sua primeira palavra “dadai”, ”papai”, ele já dominava o papai, mas o interessante, é que eu ao falar que o certo era papai, ele ria muito e dizia “dadai”, cada vez mais alto, percebi que isso pode se enquadrar na suposição de Paule Aimard, que a criança pode estar implicando, o que seria importantíssimo e excepcional.
O segundo ano, já estava bem avançado em relação à linguagem, continuamos com as estratégias que já citei anteriormente, cobrando o nome de objetos, pessoas, gravuras e etc, e tem funcionado bastante. Compreendemos que não é só a fala que pode ser considerada linguagem, todos os seus gestos, curiosidades, dificuldade e habilidades, procuro inserir num novo contexto que facilite sua rotina.
Concordo com o autor Aimard, de o terceiro ano ser a “idade de ouro da linguagem infantil”, pois ainda não percebi em meu filho, algum contato com os encontros consonantais “(/fl/,fr/,pr/tr/etc.) apenas facilidade com as consoantes [p] e [b] e as nasais [m] e [n] e todas as vogais, mesmo levando em consideração que cada criança possui seu ritmo próprio, suas particularidades.
Desde os 20 meses já sabia distinguir os parentes, algumas vezes falando, e outras apontando. Hoje com 25 meses tem tendência em acompanhar músicas lentas, repetindo sempre a ultima palavra das frases, eu, todavia estimulo essa estratégia, acho muito importante essa repetição, além de já reconhecer nomes de animais, roupas, sapatos e lugares”.
Outra pesquisa foi realizada em outra cidade, para sermos mais precisos em Graça, a criança pesquisada chama-se Ana Luíse, tem dois anos e dez meses. Ao perguntar para sua mãe (Márcia), quais as primeiras palavras ditas pela filha, ela respondeu que foram “mamãe e papai”, o que não é nenhuma surpresa. Logo após vieram as primeiras frases: Pedia para tomar água (“me dá abo”) e comida (“nham nham”). Quando a indagamos sobre as perguntas que Ana Luíse mais fazia, Márcia disse-nos que ela perguntava muito pelos pais, pois os mesmos trabalham e passam o dia fora. Em seguida à perguntamos quais as palavras que a criança mais tinha dificuldade em pronunciar:”As palavras que minha filha sentiu dificuldade foram “piçoço”(pescoço), ”fiverante” (refrigerante)” telisão”(televisão); não pronuncia o “r” em algumas palavras “pofessora”(professora), ”cholei” (chorei), “tiste”(triste)”, disse Márcia. Por último perguntamos para a mãe de Ana Luíse como ela estimula e ajuda na aprendizagem de novas palavras, ela respondeu que sempre estimulou e incentivou a fala da filha através de conversas, ensinando novas coisas como as cores, por exemplo, e frequentemente cantava músicas o que ajudou bastante na aprendizagem de novas palavras.
A criança observada é muito inteligente, fala e compreende as coisas muito bem. Ela é bastante desenvolvida, pois com 34 meses, é notável a diferença entre Ana Luíse e outra criança com a mesma idade. A menina atende ao telefone, sabe conversar, dar o recado que alguém deixou. O que é bem evidente é o quanto os pais (Antônio Carlos e Márcia), influenciam para que a filha tenha a fala bem desenvolvida. Apesar de ambos trabalharem o dia inteiro, as horas vagas, os fins de semana são dedicados à filha. São carinhosos, conversam muito com ela, expressando todo o seu afeto e ensinando-a novas coisas. Nota-se aí quão importante é a presença dos pais no desenvolvimento da criança, mesmo que não possam estar sempre juntos é essencial que busquem uma maneira de dar atenção, de dialogar, reservar seu tempo vago para acompanhar o crescimento de sua filha.
Conclui-se, portanto que a aquisição da linguagem da criança é um fator inato e também adquirido e muito importante para o processo da fala da mesma. A linguagem rege todo o meio em que se vive, por ser algo essencial para a vida globalizada.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


o AIMARD, Paule. O surgimento da criança na criança. Porto Alegre: Artmed 1998.
o BALIEIRO JR, Ari Pedro. Pisicolinguística. In MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina. (orgs). Introdução à Linguística: domínios e fronteiras, v.02. São Paulo: Cortez 2001.
o COLOMER, Teresa, CAMPS, Anna. Ensinar a ler, ensinar a compreender. Tradução da Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2002.
o SCAPA, Ester Mirian. Aqisição da Linguagem. In MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina. (orgs). Introdução à Linguística: domínios e fronteiras, v.02. São Paulo: Cortez 2001.
o SHAYWITZ, Sally. Entendendo a Dislexia: um novo e copletoprograma para todos os níveis de leitura. Tradução de Vinícius Figueira. Porto alegre: Artmed, 2006.



[1] *Estudantes do 3º Período de Letras Habilitação em Língua Portuguesa da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Sobral – CE. 2009. São alunos do professor Vicente Martins na disciplina Aquisição da Linguagem.

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