sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

OS PRIMEIROS PASSOS DA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM NAS CRIANÇAS



Francisca Luana Feijão**
Francisca Maria da Penha P. Martins**
Graziele Rodrigues Mesquita**



RESUMO:


Este texto trata a respeito do surgimento da linguagem na criança, com a elaboração deste estudo pretende-se aumentar as pesquisas sobre a aquisição da linguagem na criança e a compreensão sobre o assunto, destina-se àqueles que se questionam sobre os “porquês” e o “como” a criança adquire linguagem. Para sua elaboração foram estudados vários textos e realizadas pesquisas com crianças na faixa etária de zero à três anos de idade. Ao final do trabalho constatou-se que não se pode estabelecer regras para a aquisição da linguagem, pois este aprendizado depende muito do ritmo de cada criança, de suas condições de vida e interação social.
PALAVRAS- CHAVE: Linguagem. Criança. Interação.
Para sermos francos é um pouco difícil dizermos onde vai estar situado o inicio da linguagem.
Logo de inicio, é difícil para a criança desenvolver a produção da linguagem sozinha, ou seja, sem o acompanhamento de uma pessoa que conviva diariamente com ela, sendo de extrema importância a interação dos pais e filhos. Nessa visão, Aimard (1998) afirma: “Esses momentos de interação adulto-criança são cenas de comunicação muito comuns”. Todos podem viver momentos semelhantes a qualquer momento com seus próprios filhos.
Os Bebês são muito espontâneos, eles riem, choram, brincam, gritam e tentam muitas vezes imitar gestos e sons dos adultos, principalmente dos pais.
Os pais estão sempre interagindo com os filhos, sendo que com a mãe a interação é bem maior. Esse contato vai facilitar muito para o início da linguagem.
A mãe interage com o filho em diversos momentos. No banho, por exemplo, a criança vai ter diversas reações: ela vai chorar, ou vai brincar com a água, entre outras ações. Também na hora da refeição, quando a mãe vai dar a comida, a criança pode não estar com fome e vai reagir de alguma forma, ou através de gestos, balbucios ou choro. Outro momento muito importante para as crianças é na hora da brincadeira com os pais. Irá ser a hora de lazer, descontraída, onde realmente a criança realizará todas as suas vontades. São esses fatores que irão levar ao inicio da linguagem.
Outro ponto importante para que a criança comece a desenvolver sua linguagem, será dela prestar muita atenção nos movimentos nos lábios que os adultos fazem isso vai fazer com que a criança sinta-se estimulada e repita os movimentos, fazendo assim com que ela exercite os lábios e ajude com o desenvolvimento da linguagem.
O balbucio, que é a expressão oral dos bebês, supostamente ira ser as primeiras “falas”. Esse balbucio começa a partir do segundo ou terceiro mês, o bebê modula sua voz, produz diversos sons, começando assim a balbuciar. Quando o bebê produz esses sons e ruídos que não são necessariamente falas, é determinado como um balbucio “selvagem”, somente depois há uma evolução desse balbucio, que aos poucos se molda ao sistema fonético da linguagem.
É importante salientar, que o balbucio é uma espécie de imitação, isso ocorre quando lhe dirigem conversas, dessa forma o bebê passa a balbuciar ainda mais, e esse balbucio é acompanhado pelo momento em que o bebê se alegra com as palavras que a mãe lhe dirige com voz carinhosa, despertando na criança uma compreensão do que ela está dizendo.
Quando os bebês saem da fase do balbucio, começam a produzir realmente palavras. Isso se dá por volta do segundo ano. As primeiras quase sempre são papai e mamãe e não há nada de surpreendente nisso. O [a] é geralmente a primeira palavra vogal pronunciada, e o [p] e o [m] pertencem ao grupo das primeiras consoantes. Sendo que a partir desses fatores a crianças começam a duplicar as silabas e conseqüentemente irá produzir suas primeiras palavras.
Quando a criança vê o pai, ela pode mudar o léxico papai para “papa”. Poderá chamar mãe de “mama”, mas para alguns bebês “mama” também pode ser a mamadeira. Sempre as primeiras palavras estarão se referindo a vida cotidiana da criança, sendo palavras simples e concretas.
As primeiras palavras serão de grande serventia para a criança. Permitindo falar de pessoas de sua vida, a água, o gato, dormir, chupeta, sapatos, mamãe e outros.
Geralmente não compreendemos muitas das palavras pronunciadas pelas crianças de três anos abaixo. Às vezes pedem alguma coisa, ou querem aquela determinada coisa, fica difícil de entender, e isso nos leva a ter mais paciência e tentar compreender o que elas estão querendo nos dizer, sem demonstrar impaciência, pois a criança sabe muito bem o que quer dizer e conhece a palavra, só não é capaz ainda de pronunciá-la completamente.
Por isso é necessário sondar a criança até conseguir descobrir o que ela quer. Quando começam produzir as primeiras frases duplicam as palavras, mas nem sempre as frases têm mais de uma palavra.
Quase sempre as crianças, na faixa etária de zero aos três anos, produzem palavras cujo sentido quer dizer muito mais. A criança constrói sua língua a partir de formas orais que escuta. Ela não limita as palavras, sendo que naturalmente irá adquirir pedaços de discursos.
Geralmente as crianças prestam atenção no que falamos, nos nossos gestos e atividades, através disso tentará fazer igual, imitar isso facilitará muito as palavras e, principalmente as suas primeiras frases, que normalmente não são de imediato completa.
A criança fala por prazer, discutindo com os outros, toma a iniciativa de fazer comentários, de expressar seus próprios sentimentos.
É muito interessante e muito importante prestarmos atenção no que as crianças falam, nos seus gestos, pois isso facilitará a nossa compreensão para descobrir o que elas querem, as emoções que estão tentando passar para nós.

Como podemos observar em argumentações anteriores, às crianças passam a adquirir a língua materna através dos pais, ou seja, precisam de um reforço para desenvolver sua linguagem, necessitam de pais atentos ao que elas dizem. É com a ajuda dos pais que as crianças passam a melhorar sua linguagem, através de correções, pois como se sabe não é de inicio que a criança tem um linguajar altamente acessível a nossa compreensão, nesse pensamento Aimard (1998) afirma que “o adulto reforça e torna precisas estas primeiras palavras. É preciso compreender, depois traduzir ou repetir na forma correta aquilo que a criança pronunciou a sua maneira”.
Os pais são os principais testemunhos das primeiras palavras do filho, o que nem sempre significa que eles conseguem compreender tudo que a criança diz, pois muitas vezes o adulto não fica atento ao que esta pronuncia, como se fosse qualquer coisa que a criança fala sem nenhum sentido, no entanto, na maioria das vezes apenas uma palavra, ou seja, um pedaço de enunciado, quer dizer muito mais.
A maior parte das crianças diz palavras simplificadas com voz aguçada, que somente as pessoas da família podem entender, as quais já estão acostumadas a ouvirem certas palavras vagas, isso porque às crianças não produzirem discursos longos com mais de quatro sílabas e, às vezes elas tendem a engolir o final das palavras.
É intrinsecamente excepcional a interação dos pais no desenvolvimento da linguagem da criança. Simplesmente por eles serem uma espécie de modelo que as crianças imitam. Este fator se torna mais claro através do que chamamos heteroimitação, que se dá quando o bebê ouve as conversas de adultos ao redor dele, o que desenvolve um interesse por parte da criança em ouvir essas produções e, a partir daí ela memoriza as palavras consequentemente aumentando seu léxico.
É importante enaltecer o papel fundamental que a mãe desempenha, pois esta ao conversar com a criança desperta nela um interesse em repetir a palavra que diz, só pelo fato da mãe dirigir palavras imperativas, como mandando a criança falar a palavra que ela produziu no sentido que esta aprenda.
É bem interessante o desempenho da criança com novas palavras que a mãe lhe oferece, por mais que a mãe ensine a criança, por volta dos dez meses, ela só é capaz de emitir sons através de formas repetidas, a partir dessa afirmação Aimard (1998) comenta: “por volta dos dez meses ou um pouco depois, a criança começa a gostar de brincar com formas repetidas, juntando dois fonemas como “dadada”, “bababa” ou “papapa”.
Dizemos que a mãe é a principal responsável no desenvolvimento do linguajar de seu filho, mas existem crianças que independente de ter o adulto para que possa lhe ajudar a evoluir sua língua, possuem mais facilidade em progredir sem muito acompanhamento da mãe ou até mesmo com o passar dos anos, pois de mês em mês as crianças tendem a aumentar seu vocabulário. Já outras crianças possuem a fala mais atrasada, que mesmo com a idade de uma criança mais evoluída, é como se fosse uma criança de dois anos.
Com o passar dos anos, a criança cada vez mais estende seu léxico, pois a partir de seu amadurecimento ela consegue conversar com os adultos, e isso vai ajudando no aprendizado de palavras novas. Há crianças que perguntam uma coisa a um adulto, este responde a sua pergunta, normalmente ela tende a perguntar outra vez, essa é uma forma da criança tentar entender o que o adulto está lhe dizendo; muitas vezes ela pergunta até este responder de uma forma que a criança compreenda, mas muitas vezes a criança está querendo brincar com a pessoa, para que esta se aborreça.
Muitas vezes as crianças fazem perguntas sobre o significado das palavras, isso deixa o adulto sem explicações, pondo-lhes em apuros, pois na maioria das vezes elas perguntam muito, querem saber de tudo o que se passa ao seu redor.
É a partir dos três anos que a criança consegue pronunciar muitas palavras sem precisar da correção do adulto, pois ela já tem um linguajar bem desenvolvido, a não ser em outros casos em que ela faz confusão com a troca de palavras. Essa é a fase que a criança toma a iniciativa de contar historias, sem precisar da interação do adulto. É nessa idade que ela começa a viajar pelo mundo dos sonhos e da fantasia, como afirma Aimard (1998): “A criança sabe contar muitas coisas, misturar coisas, misturar pedaços de realidade, lembranças e um pouco de sonho (partir com papai para o pais das estrelas)”.
Não é mais o adulto quem toma a iniciativa de fazer com que a criança diga as palavras para que aprenda, mas ela mesma que interage, faz seu próprio comentário. Desse modo pode-se dizer que a criança adaptou-se às palavras que escuta ao seu redor, extraindo os modelos das conversas de adultos; consegue ainda captar em sua memória as palavras as quais os adultos pronunciam.
Mesmo que haja crianças que conseguem se adaptar a sua língua materna facilmente, conseguindo falar praticamente quase todas as palavras com um vocabulário mais adequado a nossa linguagem; há também aquelas que, ainda tem um vocabulário arcaico, como se fosse uma criança de dois anos. Como cita Aimard (1998): “por exemplo, uma criança de três ou de quatro anos que utiliza apenas seu nome próprio para falar, no tocante ao manejo da linguagem, está no nível de uma criança de menor idade”.
A seguir será apresentada uma pesquisa que foi elaborada com base nas informações vistas até aqui e no estudo realizado com crianças de zero a trinta e seis meses. Além da observação de várias crianças, observou-se especificamente o caso de Maria Clara de vinte meses de idade.
De acordo com a observação durante todos os meses da criança e dos relatos da mãe, as primeiras palavras de Maria Clara foram: papa, apesar de nunca ter visto o pai os visinhos e a mãe a ensinava, em seguida mama, logo depois papai e mamãe completos; essas duas primeiras palavras foram seguidas de dá, peto, gato, cocó (galinha), pato, ovo (com um ano de idade), pé, dalha (sandália), ío (referindo-se ao seu irmão Ciro).
As primeiras frases de Maria Clara iniciaram-se por volta dos 18 (dezoito) meses, estas mais ou menos em sequência foram: dá peto, papai shéu, mamãe cocó, vai boa (vai embora), bo paxiá (vambora passear), ui o bicho, dá mamãe peto, dá xi cacá (dá bala), anda cio (anda Ciro), abe a pota, ovo apote (ovo de capote), dó nenê a cuca peá (dorme nenê que a Cuca vem pegá), dá aô (dá o telefone), fô buíta (flor bonita), aô peã (alô penha), gato peto (gato preto), coin gato (come gato), mais recentemente, quando sua mãe lhe ensinava contar os dedos pronunciou esta frase bem maior: um, doje, cato, xinco dedo (um, dois, três, quatro, cinco dedos).
Apesar da maioria das crianças iniciar a produção de frases a partir do terceiro ano de vida, Maria Clara já faz algumas perguntas com apenas vinte meses, estas são: tadê mamãe? (frase pronunciada um pouco antes dos vinte meses, nos momentos de ausência da mãe), é uixx é mamãe? (é luz é mamãe), tadê nenê?
Clarinha tem dificuldade para pronunciar as palavras galinha, leite, padrinho, sem vergonha, macarrão, constantementes ensinadas pela mãe, entre outras. Quanto as estratégias que a mãe usa para que ela aprenda novas palavras são: falar e pedir para ela repetir; falar o nome de objetos no momento em que aponta para eles; ensina-lhe a contar objetos até cinco, os dedos por exemplo.
Vale ressaltar algumas observações do cotidiano de Maria Clara, que brinca diariamente com seus irmãos Ciro e Iasmim, aquele com dez e esta com sete anos. Observou-se que particularmente a menina de sete anos, que gosta muito de conversar, ensina bastante palavras novas para Maria Clara e já usa a linguagem dirigida às crianças. Além dos irmãos, dos vizinhos que lhe dispensam grande atenção, da mãe e da televisão ensinando palavras novas à Clarinha, ela possui vários referenciais motores ao seu favor: deste que nasceu vê os irmãos brincando, correndo de um lado à outro da casa, isso provavelmente lhe estimulou a produzir movimentos; com apenas treze meses ela andava, bebia sozinha no copo, abria a cancela de sua casa.
De acordo com a comparação feita entre Maria Clara, o texto “Aquisição da Linguagem na criança” de Aimard, e outras crianças observou-se que Clarinha está um pouco acima da média, já que produziu frases e perguntas antes da maioria das outras crianças, além de possuir desde os dezoito meses um vocabulário bastante grande para sua idade. Essa observação mostra a importância da interação da criança, em fase de aquisição, com o adulto e com outras crianças, que não existe uma idade predeterminada para o desenvolvimento das primeiras palavras, frases ou perguntas, mas cada criança tem seu próprio ritmo, e o desenvolvimento dessas habilidades tem muito a ver com o cotidiano em que a criança vive, portanto os pais não devem se preocupar com o fato de seus filhos estarem um pouco acima ou abaixo da média.

REFERÊNCIAS:
AIMARD, Paule. O surgimento da criança na linguagem. Porto Alegre: Artmed, 1998.




Francisca Luana Feijão**Francisca Maria da Penha P. Martins eGraziele Rodrigues Mesquita são alunas do Curso de Letras da UVA, em Sobral. Este artigo resulta de estudos e pesquisas durante a disciplina AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM, ministrada pelo professor Vicente Martins

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